"Quero acreditar que já não estarias em casa por alturas em que cheguei mas não sei dizer. A verdade é que não te procurei. Mais uma vez. Penso que fiz as coisas do costume, penso hoje quando penso nisso que fiz as coisas do costume, terei deixado o sobretudo ao acaso, abri o frigorífico fechei abri uma outra vez, sem saber bem o que procuro, acontece-me quase sempre."
...
"Levanto-me. Sento-me. Ergo-me. Caminho. Dou a volta. Regresso. Os passos do cão atrás de mim. As unhas dele no soalho. Poderia talvez dizer o teu nome. Se eu fosse poeta acreditaria que isso havia de te ressuscitar. Dizer o teu nome. Pensar no que sempre ouvimos dizer. Que as pessoas não morrem desde que pensemos nelas. Desde que as mantenhamos junto a nós, desde que digamos os seus nomes, o que lhes garantia existirem e serem únicas e não serem de mais ninguém.
Chamar-te. Saborear todas as letras e depois falar. Mas então como te chamava o cão, apetece-me ser como ele, hoje ser só assim, como ele, e preconizar que assim será melhor estarmos os dois calados
Mariana
Os dois juntos rodeando o apartamento, as minhas botas e as unhas dele
Mariana
Consegui dizer
Os dois à procura, os dois já sem procurar, os dois a saber que importa pouco procurar que a morte não é o que nos ensinaram
Não é o que nos ensinaram..."
A casa quieta - Rodrigo Guedes de Carvalho
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