30 de outubro de 2012

Entre bruxas, queimadas e conjuros (não confundir "com juros")

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Já por aqui se tem mencionado essa festividade das américas, a dar pelo nome de Halloween. O que pelas aldeolas da vizinhança se tem vindo a deixar extinguir, é o Pão-por-Deus: a campainha quase cessou de tocar no tal feriado em vias de extinção, a ponto relegar para uma nebulosidade amnésica , a compra de rebuçados com que se saudava a criançada . Em tempos, percorrendo um livro da biblioteca municipal verificava-se, com algum espanto, uma referência do senhor Noam Chomsky ao facto de aquilo que temos como tradição, nem sempre (quase nunca) o ser … Não se duvida de que no mais recôndito do nordeste transmontano se seja mais tradicional do que na tribo suburbana à qual se pertence (mesmo sonhando-se, no íntimo, com o não alinhamento…). Fazendo de advogada do diabo (t’arrenego, te esconjuro!), declara-se ser fascinante encontrar pontos de contacto em relatos de diversas latitudes – assim acontece com uma rainha que , sem o esperar, viu o pão que transportava na clandestinidade convertido em rosas, maravilha reivindicada por distantes países do velho continente. O mesmo sucede com os temas do romanceiro tradicional, recitados junto ao fogo da lareira, em cozinhas de paredes enegrecidas e que, em eras longínquas, eram levados pela tradição dos viajantes que, a cavalo, percorriam montes e vales detendo-se para descansar «contando um conto, acrescentando um ponto»… Parece que, nesse nordeste mais tradicional, também se comemoram noites de bruxaria, com pragas à mistura num caldeirão que, na vizinha Galiza, serve para o preparo das tão célebres queimadas. Apesar de tudo, receia-se a perda de algumas características talvez mais genuínas, não sendo confortável à escriba a descaracterização por imitação. É que nem sempre o mais fácil e transmitido por enlatados da tv (videojogos e afins) a determinada faixa etária , se extingue por aí: há conceitos que se enraízam, apagando o que, na génese (e aqui as desculpas ao senhor Chomsky), aparentavam ter cimentado um pouco a nossa identidade (ideia peregrina num mundo a perder fronteiras), mas talvez seja isto uma divagação (sem rumo, como vai sendo hábito) ao correr das teclas, tentativa de náufraga a agarrar-se à tábua de salvação, fazendo coro com o sociólogo (dizem alguns, “para que servem eles?”) : “tenho o direito a ser igual sempre que a diferença me inferioriza; e tenho o direito a ser diferente sempre que a igualdade me descaracteriza”

2 comentários:

Luísa disse...

Lembro-me desse senhor no secundário. Gostava do nome dele. Mas como não gostava da professora de sociologia... não liguei muito à coisa. Se calhar perdi a aula em que se falava (ou se clhar nem houve aula sobre isso, já que a senhora era uma seca secante). Mas concordo com ele, embora goste de acreditar que há tradições que são só de alguns s+itios sem semelhanças em parte alguma (sonhar não faz mal!).

Por acaso, as abóboras por aqui são objecto de culto (o upload está quase todo!), mas sem compota, abóbora é para sopa!. E ontem ou anteontem passei por uma loja que tinha bolsinhas próprias para o "doçura travessura" e se alguém tem uma abóbora iluminada à porta... está a pedir visitas!!

Mas sem ser esta tradição cada vez mais mundial, o culto dos mortos, dos conjuros, dos diabos e afins estão por toda a parte. veja-se o dia dos mortos no méxico, os finados em Portugal que, decobri na segunda, também se vive aqui. Descobri porque uma cliente se lamentava por estar tudo coberto de neve "Ah quinta vou para cima (uma montanha bem mais alta que os 450 mteros de atitude da terra onde trabalho) para o dia de finados. E não me apetece ir para o cimitério coberto de neve".

Como já falámos lá pela vacaria, os caretos são quase iguais por aqui. Mas nunca me tinha perguntado como seria esta data de fim de colheita. Agora já sei que se presta homenagem aos mortos. Pode ser que qualquer dia descuba que também eles "rezam", em reto-romanche, os conjuros, prevenindo maus olhados. Mas isso... teria que ir lá para baixo para o cantão Grijão (e eles falam cá uma língua... :s)

Muitas doçuras e poucas travessuras! ;)

teresa disse...

…pois se formos a ver, não somos assim tão originais, Luísa, esses exemplos também o confirmam. Obrigada pelos votos, foi um bom dia, sim, embora não me tivesse atrevido a comer doces (e a minha mãe por perto a saborear um belo travesseiro, cá pela vila velha, uma palavra para designar doçura e que, curiosamente, se aproxima de «travessura»)... espero que por aí o dia também tenha sido marcado por acontecimentos positivos, com ou sem doçuras (e algumas travessuras também fazem parte) :)