3 de março de 2011

No rasto das queijadas de Sintra

Referindo-me apenas ao concelho de Sintra [...] aparece, em 1377, no reinado de D. Fernando I, arrendado o Casal de Mastroncas (deve ser Mastrontas) em Sintra […] por três moios de pão meado (metade de trigo e metade de centeio), um carneiro e duas dúzias de queijadas.
Excerto de documentação apresentada porTude Martins de Sousa, investigador, em Conferência da Comissão de Iniciativa e Turismo, 1935.

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Em Setembro de 1962, altura da festa de Nossa Senhora da Natividade realizada em Mem Martins, foi divulgado um folheto de autor anónimo, referindo que o fabrico do famoso doce sintrense, as queijadas, remontava ao século dezanove, sendo originário desta localidade.
Provas documentais atestam ser a origem das queijadas muito anterior à data apontada, existindo documentos relativos ao pagamento de foros no reinado de D. Sancho I, ficando-se a saber do fabrico de queijadas em diversas localidades da paróquia de S. Pedro de Penaferrim.
Permanece, no entanto, a seguinte questão: seriam os ingredientes medievais os mesmos de hoje? Atendendo a que só com as viagens marítimas para a Índia se começou a generalizar o uso da canela, tudo leva a crer que seria diversa a receita. Em passado remoto, o sabor doce ser-lhes-ia conferido pelo mel.

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De acordo com Alfredo Pinto em Cartas de Sintra, o processo de industrialização terá sido da responsabilidade de uma doceira de seu nome Maria Sapa, residente em Ranholas, corria o ano de 1756. Pouco depois foram surgindo fabricantes em Linhó e Mem Martins.
Neste mesmo livro, cuja primeira edição é de 1920, fica-se a saber que as principais fábricas produziam em média 60 dúzias de queijadas por dia e era frequente o produto esgotar-se aos domingos.
A mais antiga fábrica de queijadas ainda hoje existente é a Sapa, na Volta do Duche, em Sintra.

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Com a inauguração do caminho de ferro a 2 de Abril de 1887,os industriais de queijadas, viajando de burro, transferiram o negócio para a vila velha.
Em antiguidade e a seguir à Sapa foi criada a fábrica Mathilde, encerrada em 1974.
Poetas desconhecidos fizeram quadras humorísticas aos bolos da autoria desta fabricante por serem os favoritos de alguns monarcas, como D. Fernando II e de D. Manuel II:

Quando um talassa as comeu,
Está quase fazendo um ano,
Chegou ao 5 de Outubro
E acordou republicano.

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Por ordem cronológica, seguem-se  Piriquita, criada em 1862, Gregório, 1911 e Queijadas do Preto, 1933, a última com sede em Chão de Meninos: sabe-se que o seu proprietário, na época, adquiriu numa casa de móveis sintrense uma figura de um preto. Por graça, colocou-o à porta do estabelecimento, episódio determinante para o nome de registo da fábrica.

Informação colhida em José A. da Costa Azevedo, Velharias de Sintra III
Agradecimentos: Biblioteca Municipal de Sintra

5 comentários:

Felicidade disse...

Já provei todas! A minha favorita é a do Gregório... mas gosto de todas! Beijinhos! :)))

teresa disse...

Para mim - mas isto sou eu com aquelas coisas de que gosto - fascina-me o facto de serem tão antigas. Bjocas:)

Carlos Caria disse...

Eu gosto mais é de todas.
Só o cheirinho. Nham Nham Nham!!!

António disse...

As melhores queijadas são as do Café São Pedro, em São Pedro de Sintra. Quem as faz é a sobrinha do saudoso Francisco Neves, da antiga SAPA. Seguem-se as do Gregório.

teresa disse...

Pessoalmente, tenho dificuldade em votar, mas nunca fiz o 'challenge', ou seja, comparar, em momento próximo, as de diversas origens.