Existe algo de muito cómodo ( arriscaria mesmo que de ingénuo) quando se pretende trocar pontos de vista sobre temáticas específicas: refiro-me ao chavão da “resistência à mudança” utilizado com o único intuito de silenciar discussões , no mais nobre sentido do termo , deixando latente a suspeita de ausência de argumentação por parte de quem o ostenta.
Tendo recebido um curioso texto de opinião sobre o actual acordo ortográfico, longe me encontrava de imaginar revelar-se a sua divulgação polémica, tendo o mesmo suscitado reacções intempestivas.
São recorrentes os estudos sobre a História da Língua Portuguesa, podendo afirmar-se com segurança tratar-se de uma área da linguística a manter actualidade através das diversas gerações de estudantes da matéria: entender a causa da formação das palavras que nos conferem identidade própria, converte-se em filão inesgotável para quem o faz por imperativos de ofício , de vocação ou interesse pela identidade.
Respeitando opiniões contrárias sempre que sustentadas por sólidas argumentações e tendo como constante exercício a flexibilidade mental de poder alterar pontos de vista – afinal é a partir da troca de ideias que vamos crescendo – permanece uma simples interrogação: em que etapa de desenvolvimento nos encontraríamos hoje sem o contributo humanista dos grandes nomes do Renascimento e respectivo legado dos clássicos greco-latinos que connosco partilharam?
Áreas como a psicanálise, os estudos jurídicos, a literatura, as ciências exactas -para não se cair na exaustão - encontrar-se-iam, decerto, em preocupante fase de subdesenvolvimento, por herança de um reduzido número de vocábulos no nosso idioma: a complexidade da linguagem é directamente proporcional à do pensamento, afirma quem uma vida inteira se tem dedicado a estes assuntos.
Recusando a cómoda etiqueta da «resistência à mudança», continua-se a esperar uma argumentação convincente que não se encontre estritamente alicerçada em factores económicos.
Tratando-se o acordo de um facto consumado, nem o correr dos anos leva a abrir mão da idade dos «porquês».
5 comentários:
estabelecer a ortografia correcta é um acto de normalização e, embora a ideia não seja essa, é também o acto que estabelece os erros ortográficos
leiam-se textos antigos - como "a demanda do graal" por exemplo - não havia regras nem acordos e as palavras eram escritas de muitas maneiras diferentes
ler estes livros liberta-nos não só da ideia de ortografia certa e errada como nos flexibiliza a mente
é que é excelente ser capaz de compreender textos em português de qualquer século
e não tem importância nenhuma a forma como está escrito desde que se seja capaz de relacionar com a palavra oral
se agora querem que se escreva de certa maneira que não era certa antes nem será provavelmente daqui a uns tempos, que importa?
não deixará de haver quem, sem querer, escreva com erros ;)
eu agora hei-de escrever com trema sempre que me lembrar disso, acho muito bonito, útil e divertido :)
haja eqüidade :)
um ABC teresa ;)
Não pude deixar de sorrir ao ler o comentário, almariada e, quanto à Demanda foi um texto com que tive de conviver durante 3 anos abrindo mão de outras coisas e valeu a pena pois, apesar da ortografia 'mutante' possibilita inúmeras leituras e penso que «abre portas», mas estamos a falar da Idade Média e de tudo o que nos trouxe de contradições o que, em pessoal opinião, também constitui atractivo...
Dizia a minha professora de HLP que o primeiro acordo foi deixarmos de grafar o 'n' com til, como ainda fazem nuestros hermanos e passar a utilizar o 'h' em sua substituição, e isso data do rei «Bolonhês» que nada tem a ver com o tratado de Bolonha:)
Quanto a estas questões ortográficas, ainda há pouco as discutia com a minha filha mais nova e dizia-me ela no seu impulso juvenil que o que nos empolga e diferencia é todos falarmos Português matizado de forma tão peculiar e referia-se, é claro, ao mundo da lusofonia. Mia Couto é autor de bonitos textos sobre o tema.
E para rimar, saltando de 'tema' para 'trema' assumo que foi essa a 'chave de ouro' do seu comentário que me trouxe um genuíno sorriso em dia cinzento e ventoso como o de hoje.
Um abraço:)
óPtimo ;)
Receia-se que o próximo passo seja deixarem cair as consoantes etimológicas sonoras e passarmos a ler que alguém foi «ratado», como se de qualquer pedaço de queijo se tratasse;)
Mesmo acreditando na evolução, e em algumas das justificações continuarei anão concordar com ESTE acordo ortográfico. mas é só a minha opinião e...vale o que vale.
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