“Tudo é tão nu, as discussões, os capítulos, as citações, a análise dos comportamentos, tão crua, rápida, tão feroz, e os sobressaltos funambulescos a que sempre nos habituou o seu cepticismo (só ele me fez gostar de Sérgio) são aqui tão bruscos, parecem ser anteriores à música da sua escrita. Leio-o, espantado, encantado, melancólico, cheio de suspeição, num fôlego, como sempre, relê-lo-ei para a semana no avião, leio-o como a um rascunho que talvez não seja, mas não posso deixar de pensar que é, com a morte pelo meio, a sua ausência, pela primeira vez”.
A quem se refere Jorge Silva Melo?
Se reconhecerem a letra dessa pessoa, torna-se mais fácil...
Augusto Abelaira.
"divagarde" em pleno.
Parabéns!
(Fotografia publicada no blogue "as mãos da escrita").
9 comentários:
Não resisti a pesquisar, mas sem sucesso. Ainda para mais Jorge Silva Melo refere com tanto entusiasmo Nemésio e Sena como escritores de eleição (já mergulhei em manuscritos de ambos e, nada...), enfim! Espero que alguém acerte:)
Gosto destes desafios.
É interessante tentar descobrir através do estilo, de uma ou outra referência, até de uma só palavra onde pode estar a solução.
Também espero que alguém acerte.
Mário Dionísio?
Não, Felicidade.
Não é Mário Dionísio.
João César Monteiro?
Não, "divagarde".
Não se trata de um realizador de Cinema.
Então se não vem do cinema e não é César Monteiro, vem da escrita. E, para mim, só há duas escritas ao nu... Duras e Abelaira. E porque Duras não é, porque aqui não vinha a propósito [e essa eu sinto-a logo nas primeiras palavras :)], então é Augusto Abelaira.
Bem visto, "divagarde".
Acertou e muito bem.
Augusto Abelaira.
Eu bem disse que, por vezes, basta uma palavra...
Parabéns!
Imagino que tenho um filho. E sinto isto: o mundo de amanhã não está nas minhas mãos. Quer dizer: posso educar bem o meu filho, o melhor possível… Mas que importância tem isso para a felicidade dele, ou melhor: tem muita importância, mas uma importância às avessas… De que serve a uma leoa ensinar ao filho a alegria de correr na selva se ele tiver de passar a vida fechado num jardim zoológico? O pai enganou-se… Educou-me para outro mundo, um mundo onde o João Franco não era possível, um mundo livre da miséria. Devia ter-me ensinado a ser violenta, a desprezar os outros, a acreditar estùpidamente num credo qualquer. Ensinou-me a ser infeliz. — Ainda segura o copo, embora já o tenha poisado na mesa. — Se eu tiver uma filha hei-de educá-la para este mundo.
— Apoia o cotovelo na secretária, fica assim levemente inclinada. —
Educá-la-ei para ser feliz neste mundo onde a tirania e a miséria reinam e hão-de reinar. De contrário, arriscar-me-ia a enviar a minha filha para as prisões ou a sofrer porque não tem essa coragem. Educá-la-ia a morrer, afinal.
Abelaira
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