16 de janeiro de 2010

Do fundo da memória

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(fonte: O Grande Livro dos Portugueses)

Conheci-o na década de 80. Tinha então os cabelos mais grisalhos, embora guarde na memória uma imagem que não se distancia da representada na fotografia: alto, magro, de entoação calma e atitude encorajadora de bom ouvinte.
Recém-regressada à tarefa de aluna que interrompi no último ano de Letras por ter estado em Angola, foi uma agradável surpresa ver neste professor um pedagogo com maiúscula: preocupava-se em que déssemos aulas cujos temas nos sugeria pois – dizia ele – mais tarde teríamos de enfrentar turmas e nada melhor do que o começar a fazer como preparação.
Um dia, escrevi num dos testes da sua cadeira cujo tema era «o papel de Portugal no mundo»:” na inexperiência de viajante por outros continentes, espantou-me ter encontrado alunos quase adultos que – num país ocupado pelos Portugueses durante cinco séculos – não falassem uma única palavra da nossa língua.” Recordo a anotação à margem do meu reparo (ainda guardo o teste): «é necessário que o mundo saiba».
Contou-nos que, em inícios de 60, tendo vivido fora de Lisboa na actividade que desempenhou associada ao seu primeiro curso, se viu inesperadamente no meio de uma multidão a aclamar o então chefe do governo. Ouviu a voz do colectivo a responder em uníssono à questão: «quem manda?». Tendo ficado calado e surpreendido pelo enquadramento, viu-se lançado ao chão e agredido por uma carga de casse-tête por não ter feito parte do ‘afinado coro’ …
Mas não será como professor ou pedagogo que aqui o evoco, pois tornaria o post demasiado pessoal. As breves memórias prendem-se essencialmente com a intenção de dar a conhecer uma parte mais pessoal de uma figura da nossa cultura, timidamente evidenciada no panorama português: o escritor e jornalista Alberto Ferreira

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