9 de agosto de 2009

EM VIAS DE EXTINÇÃO

















Por vezes precisamos de ter coisas para salvar: um gato, um cão, abandonados na rua Coisas importantes, outras menos, mas o gosto, a importância de salvar. Há coisas que não sabe como explicar. Fala delas, apenas. O gosto por ter causas, afectos. Saber que há pessoas mais generosas do que nós. Sim, é isso, o olhar para o lado quando alguém, na rua, estende a mão para uma esmola.
Lembra-se das campanhas para defender o lince da Serra da Malcata de extinção. Ainda hoje não lhe sabem dizer se a luta teve sucesso, se o lince desapareceu mesmo da região, se ainda o esperam…
Em Janeiro de 2002, um elevado número de surfistas organizaram-se em manifestações e abaixo assinados numa “Luta pela Onda Perfeita”, com origem nuns esporões que a Câmara Municipal estava a construir na Praia de Santo Amaro de Oeiras, e que iriam destruir “a melhor onda da costa portuguesa, uma das melhores da Europa”. Também não mais soube notícias dos resultados da luta, se teve êxito ou se a melhor onda foi substituída por uma onda medíocre.
Porque muito lhe diz respeito, lembra no Verão de 1999 a luta dos agricultores de Palmela para evitar o desaparecimento da maçã riscadinha. Acompanhou a luta e soube do desânimo dos agricultores. Volta e meia davam-lhe informe de que, algures, tinham visto maçãs riscadinhas, corria lá mas já não as encontrava. E não esperavam mais…
Mas este ano encontrou-as no merceeiro aqui da rua. Onde haveria de ser? Os tais merceeiros de que o Orson Welles falava e de que, num mundo selvagem de hiper e super mercados, ainda haveremos de ter muitas saudades. E em tempos de crise, como estes que atravessamos, mais ainda. Sim, porque só eles permitem essa palavra mágica e perversa que se chama rol. Não dizemos à menina da caixa do “Pingo Doce”: “ponha aí na conta”!
A maça riscadinha é exclusiva de algumas zonas do concelho de Palmela, a produção não é elevada e por esse facto não chegam às grandes superfícies. Esta rapaziada apenas está interessada em grandes quantidades para poderem entrar na especulação que determina preços baixíssimos aos produtores. Na Lourinhã a batata sai do produtor a 15 cêntimos., ele que prepara a terra, lança as sementes, rega, apanha-as. É possível? A batata fica na terra, a batata que consumimos vem de Espanha e França. E quem fala em batata fala em outros produtos.
O quilo das maçãs riscadinhas está no Sr. Ferreira a 1,95 euros o quilo.
A luta dos agricultores de Palmela teve êxito ou o seu aparecimento deve-se ao facto de a partir de 1 de Julho a CEE ter revogado uma das suas muitas estúpidas determinações?
Sim, essa determinação, com que a fúria normalizadora de Bruxelas nos brinda, e que estabelecia que, de Portugal à Lituânia, as melancias, os pepinos, qualquer fruta, qualquer vegetal, teriam que obedecer ao mesmo diâmetro, ao mesmo feitio.
Mas agora não está preocupado com os porquês e apenas lhe apetece o tempo de olhar, saborear, as belas maçãs riscadinhas de vermelho, amarelo, verde, gostosura da sua infância.
Sabor e perfumes únicos, memórias doces.

1 comentário:

teresa disse...

E um viva a quem tem a generosidade de se dedicar a estas lutas.
Quanto à fruta com verdadeiro sabor, é bom que não se extinga de vez. Sempre que o meu caminho 'passa por Alcobaça' é um prazer comprar aos produtores que têm pequenos pomares tanto por interesse pessoal (são produtos verdadeiramente saborosos) quanto pela satisfação que traz valorizar quem verdadeiramente se deu ao trabalho do cultivo.
(e também é bom comprar espargos bravos no Alentejo, à beira do caminho)