7 de agosto de 2009

De Mia a Caetano a propósito de uma viagem para Maputo

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Quando os amigos partem para longe por mais um ano ficamos assim como se tivesse murchado uma parte de nós. E voaram estas três semanas em que a minha irmã – chamo-lhe assim – Luísa por cá passou. Viajou de Maputo a Joanesburgo para que a passagem aérea não fosse tão escandalosamente cara. Avariou-se o carro no frio das montanhas de África que teve de atravessar, tendo a economia deixado de ser significativa... Ficou triste uma parte de mim, embora saiba que ela – escritora lenta e leitora ávida – imprima alguns dos textos que lhe envio (convenhamos que alguns cáusticos que a fazem rir, segundo me confidenciou, motivo pelo qual já lhes encontrei alguma utilidade), registos de um quotidiano por vezes caricatural das vivências saloias, bem como das conversas animadas com colegas comuns que, no presente ano, não deixei de encontrar semanalmente, apesar do exílio anual por que optei. Devendo ela estar neste momento de partida para o aeroporto, chegou-me à memória, dado ontem – à volta de um belo prato de scones e de um fumegante bule de chá na companhia da minha filha M. que teve o privilégio de ter sido sua aluna – termos falado de Mia Couto. É que hoje, ao abrir o jornal, fiquei a saber do lançamento do seu novo romance Jerusalém, tendo encontrado colagem com o nosso “até daqui a doze meses, somos de um ano de boas colheitas e não vamos deixar que alguns eventuais desaires nos venham a tirar do sério”: é que a apresentação da obra do grande Mia – de acordo com o que acabei de ler – traz-nos a seguinte lição: “a vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado” e, estabelecendo a ponte com o aniversariante de hoje – Caetano Veloso completa 67 anos – apesar de não apreciar alguns dos seus temas (quando na quase juventude lia as obras incompletas da Disney por oposição às obras completas de Gorki que um amigo tanto gostava de publicitar, não seria em vão que uma BD inventou o compositor de nome ‘Meloso’) outros marcaram-me, talvez os menos comercializáveis, muito pela beleza da letra e da melodia e, por isso mesmo, não pude deixar de lembrar a Oração ao Tempo e dela transcrever alguns versos:

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido

Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo

Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

6 comentários:

Nicolina Cabrita disse...

(...)termos falado de Mia Couto. É que hoje, ao abrir o jornal, fiquei a saber do lançamento do seu novo romance Jerusalém,(...)

O título é JesuSalém (ou seja, Jesus+além) e eu própria só dei conta disso quando encontrei este artigo aqui:
http://daliteratura.blogspot.com/2009/07/duas-vezes-jerusalem.html

Por aqui se vê a forma como o Mia reinventa a nossa língua que é, para mim, o aspecto mais extraordinário da sua escrita.

Saudações cordiais

teresa disse...

Grata pela referência, Nicolina, bem como pela (re)invenção da nossa espantosa Língua Portuguesa, aliás, o tema de conversa com a minha amiga Luísa que - não sei se ainda o continua a ser - foi colega da mulher de Mia Couto:)
Ainda um texto que transcrevi e dá conta da enorme criatividade do escritor, daí a minha escolha:
http://diasquevoam.blogspot.com/2009/06/o-sabor-vivo-da-lingua-portuguesa.html

Nicolina Cabrita disse...

Fantástico texto! Ilustra na perfeição a minha ideia.
Descobri o Mia Couto há coisa de meia dúzia de anos, e foi um deslumbramento. Depois, em 2005, estive uma semana em Maputo e foi o suficiente para concluir que o melhor que podia ter acontecido ao nosso português é ser falado por aquele extraordinário povo. Adorei Moçambique. Espero poder voltar um dia.

Anónimo disse...

Sis e Prattie,
Cheguei agora da "night".
Foi "Xalente"! (=bebi um chá -de camomila- e fiquei lenta!). Mas estou muito cansada... Se calhar são os "diabretes"... a esta hora devem ser os "noitabretes":)
Vim ler este teu texto tão bonito (ainda não tinha lido...)
Escreves mesmo bem!
A Luísa saberá que escreveste isto quando partiu?
(Ela trabalha tanto, tanto... não sei como aguenta... Ah, mas eu vou-lhe contar!)
Desculpa, amanhã prometo que escrevo para o teu mail a contar novidades.
Boa sorte em Lisboa!
Torço por ti!
Saudades mil e xi-coração apertado,
R

teresa disse...

Obrigada, Rosarinho.

A Luísa conhece o texto, sim, 'take care and don't eat sweets' (acabei de aniquilar um cheesecake, mas por enquanto não me está vedado...):)

E obrigada pelo elogio, do meu novo trabalho o que me irá agradar mesmo mais tem a ver com escrita (uma pequenina parte no meio de tantas tarefas), gosto de escrever, independentemente de agradar mais ou menos, já que isso é subjectivo...

Tudo a correr pelo melhor por aí 'knock on wood'.

Hug:)

Anónimo disse...

Ah, ah, ah...

Olha fico contente com a parte da escrita, porque é a área a que pertences de alma e talento. A tua M. também! Nosso sai à mãe (olha rimou...

Ontem, ri-me com uma nova expressão do inglês técnico: each monkey in its branch...

Já te escrevi para o gmail.
Beijos mil,
R.