16 de julho de 2009

SÍTIOS POR ONDE ELE ANDOU

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Estava a bater a uma da tarde, que bela uma da tarde, quando entrou no “Juiz de Fajão”. E, de imediato, se viu envolvido numa fascinante música ambiente: a agradável atmosfera de encontrar a sala quase cheia com trabalhadores do Parque Aeólico - os seus fatos, os seus risos, as suas conversas, os seus silêncios. Esperaria tudo menos aquilo, e se há cenário que o deixa confortado, à vontade e com gosto, é sentir-se rodeado por gente de trabalho.
Ainda não se sentara à mesa e o “Juiz de Fajão já estava a marcar pontos.
Nem sabe se Fajão tem outras ofertas de restauração, pois alinha no velho principio de que em equipa que ganha não se mexe, o que quer dizer que não troca o que conhece, e lhe sabe bem, por incertezas Muitos o criticam pela teimosia… mas já está velho para mudar…
De há dez anos lembrava-se de um estupendo bacalhau e do cabrito assado. O compadre dizia que poderíamos alinhar por aí, mas já a bicar umas azeitonas, o estalajadeiro chega e diz que havia um feijoada de chocos que estava, a apurar, em sereno descanso.
Já cá devia estar, pensou-se, e quando a travessa chega à mesa, por suposto, se entendeu que houvera engano pois mais parecia cosido à portuguesa. Não, Era mesmo a feijoada de chocos. Podem ter uma leve ideia, levezinha mesmo, pela imagem que se junta. Carnes de primeira apanha, uma farinheira de velhos tempos, uma muito apaladada morcela de arroz, feijões no ponto, chocos tenrinhos. De se lhe tirar o chapéu, o quer que seja, e mais não diz, porque não sabe.
A tarde, como diria o Eça, estava de ananases e apetecia um tintinho fresco que raras casas, muito raras mesmo, têm, não sei quê o vinho tinto não se bebe fresco, blá, blá, blá. Eis senão quando o estalajadeiro traz para a mesa canecas de zinco geladas, nelas despejou o jarro de vinho, que, num ápice, ficou na temperatura que iria obrigar a pedir bis. Mandrake não teria conseguido melhor passe de mágica.


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Bebido o café, um bagacinho caseiro, saiu para para o calor da tarde e ficar às voltas com um charuteco. O “Juiz de Fajão” não tem esplanada mas fora, no lado esquerdo de quem sai, estava um daqueles bancos antigos em madeira, que a avó tinha na cozinha e que alguém ali pusera ou esquecera. Olhou em redor, não viu ninguém e sentou-se e esplendidamente a ouvir o silêncio, de tão profundo que era, que dava para ouvir o fumo azulado a sair do honesto “Fonseca”.
Digam-lhe, agora, que a felicidade não é possíve!.
Foi a olhar o fumo que topou à sua esquerda, numa porta envidraçada, o cartaz que anunciava, para o próximo fim de semana, as festas em honra de Nossa Senhora da Guia e S. Salvador.
Ficou para morrer porque, nesse fim de semana tem, no Baixo Alentejo, o baptizado de um sobrinho neto a que, de modo algum, quer faltar.
Decididamente, nos últimos tempos, os deuses viraram-lhe as costas: já foi a Judy Collins, a Susanne Vega, agora as festas de Fajão.
E de repente o charuteco começou a saber-lhe a papel velho de jornal inglês, a felicidade quase a ir embora.
Claro que há-de voltar a Fajão, mas não para uma visita ao voo do pássaro, como esta que agora fez - uma visita demorada, mesmo valsa lenta, com todos os fff e rrr.
Mas não se despede da prosa sem que peça, a uma qualquer moçoila desconhecida, que no baile da Festa de Fajão, guarde a última dança para ele.

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5 comentários:

T disse...

Combinas com o carlos:)

carlos disse...

consta que sou 'mordomo' dessa festa, mesmo sendo ateu.
mas infelizmente não posso lá estar porque tenho a joaninha e final de estudos ali pela estrela também como uma coisa a atirar para o religioso e onde prometi ficar nas imediações e também mais uns assuntos relacionados com a 'nova casa' dela.

quanto ao juiz, o tu te enganas meu caro gin, é que ele tem mesmo esplanada.
se ali, na 'cruz da rua' (que é como lá se chama àquele pequeno cruzamento em frente à porta) desceres 20 metros tens, ao subir umas pequenas escadas uma 'esplanada' que o necas não se importará que te sentes nos bancos de pedra para fumares o charuto e beberes o café com a chávena que trouxeste de cima.
e se, por acaso eu estiver por lá, o ideal mesmo é trazer a comida do juiz, descer a mesma rua, andar mais uns 10 metros e entrar na casa dos meus pais para abancar na mesa do terraço com vista para o cabeço de cebola, a capela de são saçvador do mundo com a sua santa águeda de seios cortados na bandeja do acólito, e fumares o charuto, depois de comeres, na rede que por lá estará pendurada.
:)

João Pedro disse...

E eu que acabei de receber uma sms da prima raquel (cc para o resto da família) a saber qual de nós se fará representar em tais festas do próximo fim de semana.
Com muita 'pena' minha, será o sétimo ano consecutivo que não irei, no entanto, será por uma boa causa aquela em que, tal como papai, estaremos nas imediações da basílica e, pela tarde numa rádio popular a comprar um frigorífico cujas medidas estarão neste momento a ser 'tiradas' na tal cozinha a estrear...

gin-tonic disse...

Acredito na esplanada do Necas, e da próxima não escapará, mas, claro, que não podes saber, apenas imaginar, o gozo que ele sentiu, sentado no banco da cozinha, à sombra, com um ventinho a correr. Apenas teve de apoiar o pé na parte de baixo da janela porque a rua desce um bocadinho e servira-se bem do tintinho do "Juiz".
Esqueceu-se de dizer que também andaram às voltas com o cabtito, estava bem temperado, mas fora reaquecido e também se diga que depois de uma feijoada de chocos, só por gula, se desce ao cabrito, e está em crer que os melhores dias para o cabrito serão os de fim-se-semana, Também houve tijelada e tudo se finou, nesse dia, deitado no areal, a ver o rio correr na praia de Janeiro de Baixo.
Se paraíso houver, e a tal tiver direito, o que muito duvida, espera que seja assim!...

carlos disse...

pena que a esplanada amovível que existia à porta do juiz já não exista.
no mais puro estilo das 'tabuãs' (que eram as mesas que estavam encostadas nas paredes das cozinhas e desciam à hora da comida), era uma delicia para beber o café depois de comer.
azares de uns 'tom-tom's' indicarem que se pode atravessar fajão de carro (coisa que apenas é permitida para cargas e descargas, já que fajão é terra livre de automóveis) e fez com que um um pouco mais largo tenha levado a mesa da parede.

quanto à esplana de janeiro de baixo já aqui andou:

http://diasquevoam.blogspot.com/2008/05/o-plano-para-o-fim-de-semana-em-fajo.html