6 de maio de 2009
NOTÍCIA DOS DIAS QUE VOARAM
Sabemos que se pode morrer de qualquer coisa, de tudo, até de felicidade.
Uma pequena notícia na última página do “República” de 27 de Abril de 1974 dizia-nos que, na véspera, fulminado por um ataque cardíaco, morreu o poeta Pedro Oom. Não resistiu à emoção de ver a ditadura cair. Tinha 47 anos, um pouco menos que o regime deposto.
Ao entrar no “13” restaurante no Bairro Alto, onde habitualmente se encontrava com os amigo, abriu os olhos, escancarou o sorriso e caiu fulminado em cima do seu amigo e editor Victor Silva Tavares. “Não tinha o pulmão preparado para a corrente de ar provocada pela liberdade”, explicou o editor da “& Etc”, num programa evocativ transmitidoo há alguns anos pelo Canal 2 da RTP.
Conotado com o Surrealismo escreveu, nos anos 40, sobre o Estado Novo: “Até onde pode chegar um homem desesperado quando o ar é um vómito e nós seres abjectos.”.
Em 1980 a “& Etc.” publicou a dispersa obra de Pedro Oom no livro “Actuação Escrita”.
“Pode-se escrever” é um dos seus mais conhecidos poemas. No sótão encontrou um recorte de jornal com uma historieta sua, a lembrar ashistórias de Mário-Henrique Leiria, mais conhecidas pelos “Contos do Gin-Tonic
“Pode-se escrever”
Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever”
******
“Num pequeno país atrasado e pobre o Primeiro-Ministro preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.
A percentagem de iletrados era tal que não se descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a fase industrial a que o país necessitava chegar.
O Primeiro-Ministro reuniu os melhores pedagogos do país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a “Cartilha Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência existente.
A “Cartilha Paternal” foi distribuída gratuitamente a todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a dar a tudo o que fosse papel, liso ou impresso.”
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2 comentários:
tanta escrita esta me a pesar na consciencia.. tenho relatorios dos meus alunos (baldas).. (ai se o metodo nao fosse o andragogico..) para fazer. Sera que se pode escrever sem apetecer?
Mas nao me vou sem mais uma adivinha. Isso nao. It's payback time! (onde é que eu ja ouvi isto?)
alguns finais de tarde no bar da 'opinião' e o pedro oom com conversador....
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