
Sabemos que se pode morrer de qualquer coisa, de tudo, até de felicidade.
Uma pequena notícia na última página do “República” de 27 de Abril de 1974 dizia-nos que, na véspera, fulminado por um ataque cardíaco, morreu o poeta Pedro Oom. Não resistiu à emoção de ver a ditadura cair. Tinha 47 anos, um pouco menos que o regime deposto.
Ao entrar no “13” restaurante no Bairro Alto, onde habitualmente se encontrava com os amigo, abriu os olhos, escancarou o sorriso e caiu fulminado em cima do seu amigo e editor Victor Silva Tavares. “Não tinha o pulmão preparado para a corrente de ar provocada pela liberdade”, explicou o editor da “& Etc”, num programa evocativ transmitidoo há alguns anos pelo Canal 2 da RTP.
Conotado com o Surrealismo escreveu, nos anos 40, sobre o Estado Novo: “Até onde pode chegar um homem desesperado quando o ar é um vómito e nós seres abjectos.”.
Em 1980 a “& Etc.” publicou a dispersa obra de Pedro Oom no livro “Actuação Escrita”.
“Pode-se escrever” é um dos seus mais conhecidos poemas. No sótão encontrou um recorte de jornal com uma historieta sua, a lembrar ashistórias de Mário-Henrique Leiria, mais conhecidas pelos “Contos do Gin-Tonic
“Pode-se escrever”
Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever”
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“Num pequeno país atrasado e pobre o Primeiro-Ministro preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.
A percentagem de iletrados era tal que não se descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a fase industrial a que o país necessitava chegar.
O Primeiro-Ministro reuniu os melhores pedagogos do país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a “Cartilha Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência existente.
A “Cartilha Paternal” foi distribuída gratuitamente a todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a dar a tudo o que fosse papel, liso ou impresso.”
2 comentários:
tanta escrita esta me a pesar na consciencia.. tenho relatorios dos meus alunos (baldas).. (ai se o metodo nao fosse o andragogico..) para fazer. Sera que se pode escrever sem apetecer?
Mas nao me vou sem mais uma adivinha. Isso nao. It's payback time! (onde é que eu ja ouvi isto?)
alguns finais de tarde no bar da 'opinião' e o pedro oom com conversador....
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