6 de maio de 2009

NOTÍCIA DOS DIAS QUE VOARAM




É já nos primeiros dias de Maio que as redacções dos jornais se começam a organizar para que não mais qualquer tipo de censura sujasse a suas palavras.
Obrigados a uma escrita do silêncio, obrigados a saber jogar com as entrelinhas, com as palavras, com o que quer que fosse para que a notícia, a mensagem passasse. Olhando alguns jornais podemos constatar a habilidade, a mestria desses homens da palavra.
Face aos novos dias todos esses jornalistas teriam, agora, que reaprender a escrever, tarefa nada fácil depois de quase meio século de policiamento às ideias e à escrita.
Contudo, outros obstáculos começavam a surgir. O principal dava pelo nome de camaleonismo.
Eduardo Valente da Fonseca, jornalista do “República”, também poeta, achou oportuno chamar os bois pelos nomes e publicou nas páginas do “República” uma “Carta Aberta a alguns jornalistas (que mesmo assim são muitos) sobre o seu oportunismo político”
È um texto espantoso que tem tanto de bonito como de dramático. Violento na denúncia, é uma pena que a sua extensão não permita transcrevê-lo na totalidade. Ficam algumas passagens e reparem como tudo é tão actual, e, no entanto, já se passaram 35 anos:

“Vocês que bajularam ministros, presidentes das câmaras, governadores civis, figuras proeminentes da política e da finança, vocês que se bateram à miseranda cartinha com uma gratificação dentro para tecerem toda a espécie de falsos elogios e louvores, que enriqueceram ou passaram a levar um estilo de vida que o vosso magro ordenado não comportava (…) que se puseram sempre do lado das autoridades contra os trabalhadores e os estudantes (…) vocês que sob o estado repressivo de Salazar e Marcelo nunca apareceram publicamente a manifestar o vosso desacordo, vocês não são dignos de escrever para um Povo que só agora se apressam a vir dizer que respeitam, e não são dignos de serem lidos por um leitor novo, que começa a despertar para ajudar o verdadeiro jornalista a construir com ele um outro país, uma nova relação humana sem censura nem camaleonismo. Desistam e reformem-se que o Povo, a Cultura e o Jornalismo agradecem.”

1 comentário:

teresa disse...

Olhando para o título bem destacado, acaba por vir ao pensamento a frase : "nunca digas nunca".