5 de março de 2009
Os estranhos mundos de Gulliver
Pediram um livro da nossa infância. Eu tenho uma referência primeira, o Robinson Crusoe, e logo a seguir vem o Gulliver. Já não possuo qualquer dos exemplares lidos pela primeira vez, estralhaçados por muitas leituras e empréstimos. Vou mostrar aqui o que foi oferecido à minha mãe pela querida avó Nené. Tinha dez anos e já lia em francês, eram tempos de ter mademoiselle em casa. Eu li-o em português.
Porque é que a leitura do Gulliver me marcou? Muito nova para perceber as alegorias políticas e sociais de que Swift recheou o livro, algo porém retive. Lilliput, Brobdingnag, Laputa, Houyhnhnms, com os seus especiais habitantes, ora pigmeus, ora gigantes, os de cabeça virada de lado e de olho para dentro e os homens-cavalo povoaram-me o imaginário. E através deles descobri não só a diferença, mas o conceito de crueldade pura . Verdade seja que a querida condessa Rostopchine me tinha instruído nesse capítulo anteriormente. Não esquecerei nunca os pequenos tiranos e os escravos oprimidos da terra dos Houyhnhnms. O que provoca o medo do desconhecido e do diferente. E como ao contar uma história se escreve sobre a essência humana.
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1 comentário:
Gostei do teu texto de opinião, T.
O Gulliver é sem dúvida mais uma obra para a qual quase não existem limites de interpretação (e vão 3, quanto a mim, depois da Alice e das aventuras do João Sem Medo, recente referência do gin-tonic).
Quanto ao Robinson, recordo-me ter feito quase uma directa a lê-lo, entre a infância e a juventude. Actualmente, com evidentes referências intertextuais com a obra de Defoe, os miúdos lêem, no oitavo ano, a obra de Michel Tournier, "Sexta-Feira ou a Vida Selvagem", também ela apelativa: eles aderem não tanto pelas palavras propriamente ditas, mas pela sucessão de acontecimentos que provoca quase que um efeito "Araldite".Por isso, já conheço melhor as peripécias da narrativa de Tournier, escritor ainda hoje vivo, do que do pai legítimo do náufrago Robinson:)
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