5 de novembro de 2008

A CIDADE É A EXPERIÊNCIA QUE DELA TEMOS





Ainda se encontram antigas barbearias em locais velhos da cidade. As da “baixa” chegaram a ter “manicure” e engraxador privativos. Mas as barbearias de bairro já não são como antigamente, mas ainda há algumas. Esta fotografou-a na parte velha da Parede.

Por ele vai ao Sr. Victor cortar o pouco cabelo que ainda lhe resta. O Sr. Victor está ali há muitos anos mas não é uma daquelas barbearias típicas, antes uma pequena sala onde cabe a cadeira de barbeiro e um curto banco corrido onde se sentam os clientes e se acumulam jornais de dias.

Gosta de ter as coisas à mão de semear. Sai de casa, se o Sr. Victor não está à porta, a conversar com a proprietária da pequena retrosaria ao lado sabe logo que há clientes, e vai à sua vida. Tentará mais tarde.

Os temas de conversa do Sr. Victor, ao longo dos anos nunca variaram: para além dos desacatos e zaragatas da vizinhança, de que está informado até ao mais ínfimo detalhe, é o Sporting que nunca mais levanta cabeça, são os malandros do governo, seja lá o partido que estiver por lá , e ele vai dizendo se os malandros estão lá foram os muitos Srs. . Victores deste país que lhes abriram a porta.

Mas ultimamente o Sr. Victor tem outra vertente: deu em xenófobo e, com tesoura e pente nas mãos, vai desancando essa “tralha de brasileiros” que lhe vieram dar cabo do negócio: cabeleireiros unisexo,” cortes a cinco euros, quando ele leva sete e meio, e com a agravante – essa sim é que é forte! – que as brasileiras passeiam as mamas pelos cabelos dos clientes e eles adoram!...e não querem saber de mais nada, não querem saber da arte, do asseio, da competência de um verdadeiro profissional. chego a ter dias de apenas fazer dois cortes..Não dá! Mas o que é eu vou fazer com uma reforma de 140,00 euros?”

Aqui lamenta ser do tipo que não gosta de mudar, seja o que for. Gosta de entrar nas lojas do bairro e ter a certeza que quem está a atender, sabe o que ele quer: que o pão é mal cozido, que a bica não é escaldada, que a “imperial” terá de ter, pelo menos, dois dedos de espuma, que o corte de cabelo não é a mais nem a menos.

O mais estranho é que com tanto livro na cabeça, tanto jornal que tem lido, tanto filme que tem visto, ficou sem saber, no tocante à xenofobia do Sr. Victor, o que lhe dizer. Talvez mesmo ameaçá-lo que não mais ele lhe cortaria o cabelo. Estas “brancas” têm-no acompanhado pela vida, mas agora com muito mais frequência.

Mas, no fundo de tudo, só ficou a desejar que, por causa das brasileiras, o Sr. Victor não feche a barbearia. Ele já disse: detesta mudar de hábitos!...

Aproveita para lamentar o tom, quiçá pornográfico, de parte do texto, mas há alturas em que as coisas têm o nome que têm e ele não consegue dar a volta.

O Sr. Victor também não.

1 comentário:

T disse...

Sempre magníficos e oportunos os seus posts.