7 de outubro de 2008

Começos de livros



De há muito sabe que todos os começos são difíceis.
Mas prometera a publicação de alguns começos de livros, pelo que urgia e encontrar um, o primeiro, aquele que marcasse um gosto, um tempo, uma alegria. Desarrumou prateleiras, releu livros, mas, no fundo, no fundo sabia que o primeiro seria este. Porque há livros que marcam as vidas de quem o lê. A dele, por exemplo, que não mais o esquecerá. Talvez por isso foi esse um dos primeiros livros, quando a idade deles chegou, que deu aos filhos para lerem. Um belíssimo começo de livro, um livro que deu também um bom filme, com o mesmo nome, realizado em 1956, por John Huston e com uma estupenda interpretação de Gregory Peck no papel do Capitão Ahab


Começo de “Moby Dick” de Herman Melville:

“Tratem-me por Ismael. Há alguns anos – não interessa quantos – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e, principalmente, quando a neurastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar os chapéus de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio. Onde, com um gesto filosófico, Catão se lança sobre a espada, eu, tranquilamente, meto-me a bordo. E não há nisto nada de extraordinário. Embora conscientemente, quase todos os homens sentem, numa altura ou noutra da vida, a mesma atracção pelo oceano.”

2 comentários:

T disse...

É dos livros que sempre me fizeram doer a alma e que nunca mais esqueci. Li-o pelos meus doze anos.
Tenho essa mesma edição.
Obrigada caro Gin.

Luís Filipe Gonçalves disse...

12?!