Ao fim da tarde, entre as árvores que perdem as folhas e quase da mesma cor delas, a mulher retoca-se e refaz a maquilhagem. Os passantes facilitam-me a vida e desviam-se para eu fotografar.
Fico a pensar na quantidade de sacos que a senhora transporta e se será uma sem abrigo. No caso, não perdeu os hábitos de parecer o melhor possível. Abandonada e rendida ao local, entretanto mira-se num pequeno espelho. Lisboa é assim, arredia e presente.
5 comentários:
A miséria devia fotografar-se sempre de frente. Mas eu também sou assim, falta-me a ausência de culpa para que me sinta à vontade, de frente para um certo tipo de retratos.
Quando passei por ela, a senhora sorriu-me. E senti-me culpada.
Quando as folhas caem, é Outono. Os pássaros voltarão em Março. Se a fotografia não tivesse legenda e lhe pedissem para descrever o que essa fotografia mostra, diria: uma mulher, sentada num banco de jardim, fala ao telemóvel e olha a sua mão direita. É isso que vê.
Extraordinária a preocupação de bem parecer, independentemente das condições económicas.
Não tem que se sentir culpada. Fotografou a realidade. Somos todos culpados, nesse caso.
E concordo em parte com o gin-tonic. Só que em vez do telemóvel, vejo um espelho...
É uma fotografia muito bela. E há que preservar a identidade, assim ainda bem que não a fotografou de frente :-D.
Acho a imagem comovente pelo cuidado com a aparência.
São estas situações fascinantes de quem escreve, seja por palavras ou por imagens: quem lê , tem interpretações que só o autor sabe.
Abreijos
Fotos com pessoas, com pedaços de pessoas, com expressão, com olhar,...gosto muito. Carregadas de realidade, boa e má, de vida.
Sentir-se culpada?! E eu que a admiro tanto por não pensar duas vezes em fotografar tudo o que lhe pareça digno de registo...como um ser humano.
Gosto desta, Teresa.
Enviar um comentário