15 de maio de 2008

o indie lisboa em barcelos


a vantagem de estar numa cidade pequena é irmos a tudo o que mexe.
se estivesse em lisboa, provavelmente não teria tempo e disposição, em simultâneo, para ir ao indie.


e extensão do indie lisboa em barcelos durou 2 dias e 4 filmes.

1.
sleeping betty, de claude cloutier
uma curta metragem de animação sobre a princesa betty que está adormecida.
a mãe chora baba e ranho; o pai manda chamar tudo e mais alguma coisa (do henrique VIII à rainha vitória ou a mostros estranhos), até que decide socorrer-se do 's.o.s. prince'.
mas nem o beijo do principe ou o do seu cavalo a acordam.
um final hilariante e inesperado para uma das melhores curtas que vi nos ultimos tempos.

2.
one day dittle, de haarlov johnsen
um dia na vida de uma prostituta de copenhaga.
dos diálogos com os clientes ao telefone, às chamadas provocatórias, aos telefonemas para a família, e principalmente para a filha, em áfrica.
filmado magnificamente apenas em planos apertadissimos (apenas se apanham pequenas partes do corpo: os lábios, os olhos, uma mão, um joelho) e sempre a voz em directo dos diversos telefonemas durante um dia de trabalho.
um filme sobre um tema recorrente em primeiras obras (o filme é o trabalho de licenciatura de haarlow johnsen), mas aqui filmado como nunca o foi.
sobrio, ausênsia de moralismos e uma proximidade com aquela mulher impressionante.

3.
import export, de ulrich seidl
um dos filmes mais violentos que assisti nos últimos tempos (não vi o seu anterior dog days...).
duas histórias em paralelo:
uma enfermeira da ucrânia que emigra para a áustria; um jovem segurança austríaco que parte com o padrasto para vender flippers e outras máquinas num roteiro até à ucrânia.
filme de uma crueza extrema nas suas imagens despidas de qualquer sentimento ou elemento a que nos possamos agarrar.
do gélido e paupérrimo hospital pediátrico na ucrânia até aos hospital geriátrico na austria, filmado com os seus doentes delirantes o percurso de olga deixa-nos completamente suspensos em inseguranças.
o percurso contrário do jovem segurança que é agredido e humilhado por um bando ao sair do trabalho e que deve dinheiro a toda a gente até ao dia em que abandona o padrasto depois de uma noite num decrépito hotel ucraniano cheio de vodka e sexo,que acaba numa longa estrada branca cheia de gelo e neve sem nenhum sinal a que nos agarremos é duma frieza absolutamente arassadora.

4.
momma's man, de azazel jacobs

um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

azazel jabobs faz um filme biográfico até ao limite:
filmado na sua casa, um loft no centro de manhattan, repleto das suas memórias e com os seus pais como actores. conta a história de um homem que depois de ser pai regressa a casa dos seus pais para uma pequena visita e não consegue abandonar a casa onde cresceu.
a angústia de mikey que não consegue sequer descer o primeiro degrau que o levaria a sair da casa da mãe (sempre presente a perguntar se quer café, chá, cereais, sopa...); o retornar às canções da adolescência, aos livros de banda desenhada, à casa deslumbrante de memórias que é a casa dos seus pais (o pai foi também um cineasta experimental e algumas dessas experiências aparecem projectadas na parede da casa).

este filme devia ser obrigatório para os jovens adultos portugueses.

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