(aqui uma coisa com alguns anos e a precisar de actualizações urgentes... ou apagamento permanente....
com maiúsculas e tudo)
Se ao continuarmos, no Largo do Terreirinho, tomarmos a direita, podemos escolher entre o Largo das Olarias (Igreja á esquerda ‘esta ermida he da irmandade dos j. da boa sorte es uia sacram.1718’) e consequente rua, ou a Rua do Terreirinho até á do Benformoso. Se o fizermos percorremos a zona que até ao tempo de D. Manuel foi um cemitério judeu (toda a área daqui até ao Intendente) e que nunca ganhou estatuto de área recomendável a meninas candidatas a debutantes. Depois da destruição do cemitério e posterior construção de novas casas, apenas se conseguiu que fossem ocupadas por artesãos (ao tempo não muito valorizados na sua arte) que foram dando nomes ás ruas (algumas mantiveram-se até hoje – Olarias, Forno do Tijolo – outras não.) Ainda assim, a memória do oleiro Romão, da Rua da Bombarda, e dos seus púcaros perfumados de cambraia e das pastilhas de barro aromático manteve-se até há muito pouco tempo – aliás, recentemente recomeçaram a aparecer nos mercados de artesanato as peças de olaria perfumada.
Façamos agora um pequeno intervalo para a história das pedras:
Até ao Século XV existiam por aqui os cemitérios mouro e judeu. Quando em 1497, D. Manuel mandou os judeus ás urtigas, deu os terrenos ao município. Todas as pedras dos túmulos foram utilizadas na construção do Hospital de Todos os Santos, que deu de si quando a terra tremeu, regressando assim por algum tempo as pedras ao nível térreo a que estavam habituadas. Após este pequeno intervalo foram novamente utilizadas na reconstrução de Lisboa e estão agora a suportar empenas e janelas no Rossio e Praça da Figueira.
Mas estávamos nós no Largo do Terreirinho a escolher caminho e não foi o da direita que tomámos:
Continuamos a virar á esquerda e, no sítio onde começa a Calçada dos Cavaleiros, viramos para a R. Marquês de Ponte de Lima para voltar a virar na segunda rua á direita, em frente ao antigo Convento de Santo Antão-o-Velho. Este antigo convento foi o resultado da transformação da Mesquita Grande da Mouraria em igreja cristã, com o acrescento de um convento. Esta, que foi a primeira casa no mundo da Companhia de Jesus, foi doada por D. João III e ocupada por Simão Rodrigues e mais seis acólitos em 1542 (funciona hoje como Assistência Religiosa do Exército e Serviço Histórico-Militar). Descemos então o Beco dos Três Engenhos (mesmo pequeno não cabia um, mas o nome – a rua – é bonito) até á Rua da Guia. Aqui, á esquerda, uma antiga tasca (obras recentes a sofrerem da epidemia da azulejaria branca de cloaca) ainda com latada á porta e mesa de madeira a condizer (servem refeições mas só tem um prato...). Em frente (nº 1) um prédio que deveria ser bonito se as obras de restauração não o tivessem deixado num estado lastimoso (talvez por isso estejam paradas as obras).
Continuando para o Largo da Severa (Largo da Amendoeira (?) quando não era tão velho) temos no nº 8-A uma antiga oficina de costura de cabedais e outras peles (arranjam saias, blusões, calças e outros objectos supostamente sem cura – é só conselhos !). Ao fundo, do mesmo lado, num quase beco a merecer visita, um ferro velho. Numa ilha no largo e pertença do mesmo (já foi parte da Rua do Capelão) a casa onde nasceu (e outras coisas) a Maria Severa Onofriana, em frente á casa onde nasceu Fernando Maurício (o alter ego das gentes da Mouraria).
Adiante, na esquina da Rua João do Outeiro (espreitadela) com a do Capelão, um bom exemplo do que pode ser a recuperação da Mouraria: um prédio com janelas de guilhotina, andar de ressalto e varandas de ferro forjado. Entramos na Rua da Mouraria, fechamos os olhos para não ver o centro comercial que dá o tom ao que parece ser a ‘recuperação’ da área, e viramos á esquerda.
Parar no portal da esquadra da Mouraria (mal empregado portal para dar portagem a cívicos). O portal, manuelino, tem duas colunas laterais invertidas (!). Aqui funcionou no Século XIII o Colégio dos Meninos Órfãos, tendo sido restaurado a seguir ao terremoto para o aspecto que agora ostenta. Continuamos em frente neste misto de rua e largo do Martim Moniz para, ao fundo, subir umas pequenas escadas (não confundir com as Escadinhas da Saúde) que, contornando o antigo ‘piolho’ (Salão Lisboa) nos levam á íngreme Rua das Fontaínhas, a S. Lourenço. Reza a tradição que existia, no sítio onde hoje começa a escada, uma tasca que vendia café à seringa. O tasqueiro seringava o café para o copo e quando o cliente não tinha dinheiro, ‘chuuuupa....’.
Logo á direita (R. S. Bento Mártir), uma porta em adiantado estado de ruína com reforços em lâminas de ferro cruzadas. Continuamos a subir e damos com a Rua de S. Lourenço.
Aqui, no nº 5, Cantinho do Aziz, tasca de comida indiana (caril, chacute, matapa e, aos sábados, feijão com coco.
Aconselha-se a mesa junto á varanda sobre os telhados da Calçada de S. Pedro Mártir.
A seguir, Largo dos Trigueiros: escadas várias para vários gostos; bancos que já foram fixos; chafariz que já deitou água; Restaurante Os Galos (Typical and inexpensive – 1st. Prize, portuguese cooking) com patrão um pouco afectado e o dito prémio a não ser merecido. Continua o largo com o Beco das Farinhas (cuidado com as traves que escoram os prédios) até á Rua das ditas. Aqui pode voltar á esquerda para trás e subir o Beco das Flores (tem muitas e ainda pode levar a placa toponímica que já está no chão há muito tempo) até virar á direita para o Largo da Achada.
A primeira vista é a do prédio de esquina do Beco da dita com o Largo da Cuja: janelas em ogiva, andares de ressalto, portas lindas. O seu restauro recente veio acabar com o crime que era um anexo com telhado de plástico ondulado que lhe estava adjacente.
Na esquina da diagonal, um prédio semelhante a merecer igualmente restauro (saúde-se o leão á porta, num exemplo de sportinguismo louvável).
Ao lado, no começo das Escadinhas (que vão ter á Costa do Castelo, já passada) um antigo recolhimento (’louvado seja o santissimo sacramento este recolhimento he d nosa sra do emparo em ninas orfas padre nosso pelas almas 1610’). Dentro, passado o portão que se abre com pressão digital sobre trinco de alavanca, ao abrigo das colunas, uma fachada de portas e janelas várias com alturas diversas a adivinhar divisões em altura que não serão as originais. Escadaria repleta de plantas e flores.
Olhando para baixo, de sobre o banco no muro, as traseiras da Igreja de S. Cristóvão com cruz (‘anno de 1800’) incrustada.
Saímos e voltamos ao largo (chafariz, degraus para sentar e árvores a proteger do sol quando a pique) com uma inclinação generosa a pedir conversa fiada.
Por toda esta zona (tal como em Alfama) encontramos os azulejos dos três do costume (a devoção deu mesmo o nome de S. Marçal a uma zona junto ás Olarias).
Fotos do Arquivo Municipal de Lisboa
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