2 de fevereiro de 2006

das praxes e outras acefalias

um professor da universidade de trás os montes decidiu realizar um inquérito aos alunos do primeiro ano sobre as praxes académicas naquela universidade.

o inquérito era escrito e anónimo.
do conjunto de 43 respostas, apenas 3 não escreveram terem sido obrigados a fazer coisas que os próprios classificaram como inaceitáveis.

há muito tempo que andamos todos a assobiar para o lado a propósito da prática das praxes.
há muito tempo que, cada vez que um aluno se queixa, todos se riem e o acusam de não estar dentro do espírito da coisa, que é a integração dos novos alunos no espírito da escola.
de acordo com os relatos, os acéfalos ‘doutores’ obrigam os caloiros a arrastarem-se na lama, a confessarem em público onde e como tiveram as suas experiências sexuais, atiram-lhes baldes de água para cima ou obrigandam-nos a entrar no rio corgo às 4 da madrugada, obrigam-nos a andar de joelhos pelas ruas de vila real, ficarem dezenas de pessoas fechadas numa sala às escuras durante 8 horas, obrigarem os caloiros a limpar as casas dos ‘doutores’, colocarem larvas de insectos nas meias e nos cabelos dos caloiros, carregar esterco nas mãos ou deitarem-se em cima dele… e outras coisas do mesmo universo mentecapto.

uma vez vi um grupo de caloiros a comer (literalmente) relva na avenida dos aliados, rodeado de um largo numero de alarves e radiantes ‘doutores’ que pontapeavam os que resistam e ingerir a relva.

asseguram as bestas acéfalas defensoras das praxes académicas, que estas actividades estimulam a integração dos novos estudantes no espírito da escola.
afirmam os mesmos idiotas que defendem as praxes académicas que estas actividades resultam da tradição académica e que é nesse caldo que se funde a fraternidade estudantil.
tirando o facto de eu não saber como é que a novíssima universidade de trás os montes tem uma tradição. (o mesmo poderia dizer da do minho, ou da beira interior ou de aveiro, ou do algarve..) que fundamente estas actividades, partindo do princípio que possa existir alguma tradição que justifique tais ‘tradições.
o que eu gostava de saber é que tipo de merda enche, por substituição da massa encefálica, a caixa craniana dos ‘doutores’ das nossas universidades para acharem que é da junção de alarvidades e comas alcoólicos que se fazem homens, ou mulheres, ou lá o que eles se querem fazer
o que eu gostaria de saber igualmente, é se os terrenos das universidades e as cidades onde elas estão implantadas foram consideradas zonas libertadas da opressão da inteligência.
o que eu gostaria de saber é se nesses locais os direitos humanos e as leis da república foram suprimidos.
nos últimos anos a actividade das praxes tem vindo a aumentar como um cancro que destrói ás células dos cérebros dos nossos universitários.
o futuro não se vislumbra risonho.

se já o triste espectáculo das ‘tunas’ fazia parte do grupo das coisas mais deprimentes do mundo, o das praxes estará incluído no das mais revoltantes.
o que me preocupa, é que é daquela massa que se faz o nosso futuro.

estamos mal
muito mal

2 comentários:

J.Pierre Silva disse...

Muito gostava eu de saber o que tem contra as tunas ou será que se fixa apenas numa sinédoque perniciosa tomando a parte pelo todo e pondo tudo no mesmo saco.

Quanto a praxes, haja o bom senso de saber discernir as coisas: http://notasemelodias.blogspot.com/2008/09/notas-sobre-praxes-e-praxe.html

carlos disse...

caro (a) pena,

eu não tenho nada contra as tunas nem me fixo numa sidédoque (gosto desta) perniciosa.
acho que as tunas fazem parte das coisas mais deprimentes do mundo, pela mesma razão que acho que um disco dos polo norte, dos delfins ou do joão pedro pais o são:
pela qualidade da sua música ou pelo caricato das suas coreografias.
eu não tenho nada contra grupos de estudantes que se juntam e cantam enquanto 'grupo de estudantes':
é a estética (visual e sonora) das tunas que acho próxima do grau zero da música, e logo deprimente.

quanto às praxes,
igualmente não tenho nada contra ritos de iniciação (obviamente a fazerem sentido no século 19 e pouco hoje em que o ambiente escolar pouco diverge e a socialização dos estudantes está a léguas dos perdidos da pronvíncia que vinham estudar para a cidade e precisavam a aculturação ambiental).
o que tenho contra é um bando de acéfalos de évora acharem que devem rastejar no esterco para serem bons veterinários; o que tenho contra são as simulações de sexo oral (ou outros sexos); o meu problema são alunos de engenharia irem assaltar um banco porque era uma praxe; o que tenho contra é obrigarem a quem não quer (seja essa 'obrigação' física ou social); o meu problema são os veteranos com falta de auto-estima, necessidade de afirmação e espírito de 'vais-pagar-o-que-me fizeram' que aplicam aos caloiros.
e tudo isto com a desculpa da integração....

caro pena,
há milhares de formas de integrar pessoas em grupos sem ser com 'tradições' pescadas à pressa, nalguns casos em academias com meia dúzia de anos.
o estudante que chega hoje à universidade tem, genericamente, a mesma experiência de vida dos que lá estão.
precisa muito mais de saber onde se fazem as fotocópias ou onde fica a associação e muito menos de integrações iniciáticas regadas a comas alcoólicos...