Os atentados de ontem, em Londres, obrigam-nos a olhar a face do terrorismo, bem de frente. Mesmo assim, há que não queira olhar de frente e prefira um olhar de viés ou desfocado. Digo isto porque em diversos meios de informação, em fóruns disto e daquilo, em conversas de café e mesmo aqui no blog, transparece a ideia que o fundamento do terrorismo e a causa próxima dos atentados – de Londres e Madrid - é a atitute, bélica e imperialista, dos americanos e seus aliados...
Bush e amigos decidiram, unilateralmente, invadir o Iraque – e o Afeganistão – com o objectivo de tornar o mundo mais seguro, argumentando o perigo de apoio ao terrorismo e com a existência de armas de destruição maciça. Após as invasões, essas armas não existiam e o mundo não ficou mais seguro… o que exacerbou o natural descontentamento muçulmano e desencadeou o terrorismo fundamentalista.
Mas vejamos:
Bush e amigos invadiram o Iraque e o Afeganistão como corolário de uma política – contestável, é claro – desenvolvida após o atentado às torres gémeas de Nova York, em Setembro de 2001. Esse atentado terrorista, "a ignominea", não teve como génese nenhuma ocupação ilegítima de um país e, aceitou-se, que gerasse uma reacção.
Mas os atentados de Setembro 2001, ocorreram na sequência de uma política externa americana radical que apoiava incondicionalmente Sharon, em Israel, na restrição dos direitos civis aos palestinianos, que mantinha tropas "de ocupação" em países árabes após da 1º Invasão do Iraque, em 1991, e que mantinha um pesado bloqueio económico a este país. Compreendia-se a revolta árabe.
Mas a 1ª invasão do Iraque ocorreu porque este país era uma fonte de destabilização regional, possuia armas nucleares e químicas (anos 80), invadira o Irão e o Koweit. Na altura, foi universalmente aceite e contou com a participação de outros países árabes. E atitude israelita fundamentou-se em anos e anos de intifada, de sucessivos ataques terroristas às suas cidades e ao falhanço dos acordos com Autoridade Palestiniana, pelos recuos de Arafat.
Mas se o Iraque era essa fonte de destabilização regional foi porque, durante a guerra fria - anos 60 e 70 -, foi alternadamente apoiado e armado pelas duas potências mundiais, em função dos seus interesse regionais. E se os palestinianos não confiaram em Israel, foi porque estão sujeitos ao arbítrio judeu desde que os seus territórios foram ocupados – em 1967 - e as suas terras confiscadas, em 1948.
Mas se o Iraque tinha sido apoiado e armado foi porque, após a sua independência nos anos 40, era o país com uma maior identidade nacional, com uma sociedade civil mais consistente e parecia abraçar os princípios da democracia. E se Israel ocupou os territórios palestinianos foi porque, desde a sua independência em 1948, foi invadido três vezes por uma coligação de estados árabes.
E tudo isto não teria acontecido se as potências europeias, após a derrota do Império Turco na 1ª Guerra Mundial, não tivessem estabelecido protectorados de fronteiras artificiais e não tivessem determinado o estabelecimento de um estado judeu.
Ou, indo mais longe, nada disto tinha acontecido se o Turcos não tivessem derrotado o califado árabe… ou se os judeus não fossem "obrigados" a voltar à palestina devido ao holocausto nazi, aos pogroms do leste e às expulsões macissas – como ocorreu na Península Ibérica no século XVI.
Este longo arrazoado serve só para demonstrar que a razão (ou causa) das coisa se perde na história, numa intricada rede de causas e efeitos, cuja verdadeira génese é obscura. Olhar apenas para ontem, é uma ilusão…
E, para quem defende o diálogo como arma contra o terrorismo, deixo a entrevista de Omar Bakri Mohammed, um sheik de Londres conhecido como o Teórico da Al-Qaeda na Europa, em 18 de Abril de 2004, ao Público. Via Rua da Judiaria:
Nós não fazemos a distinção entre civis e não civis, inocentes e não inocentes. Apenas entre muçulmanos e descrentes. E a vida de um descrente não tem qualquer valor. Não tem santidade.
Nota: A teoria que o "Imperialismo Ocidental" contribuiu para a origem – e mantém - da pobreza e atraso do 3º Mundo, poder-se-á aplicar no caso de África mas não no mundo árabe. Aí, a génese da desvantagem, radica exactamente no fundamentalismo islâmico.
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