Este fim de semana foi muito atribulado... atribuladíssimo. Tanto, que nem tive tempo de vir aqui dar uma espreitadela.
A Nela andou num curso de inglês e foi praticar para Londres, partiu sexta às sete de manhã. A Gena meteu-se nas Guias e também foi praticar para um acampamento, partiu sexta às nove da manhã. E assim, ficamos só nós, os homens da casa: eu, o Manel e... o Loky.
Resistimos com bravura, vivemos ao sabor destes dias de sol, dissemos montes de asneiras, tomámos banho todas as manhãs, não chegámos a comer comida para cão e, ontem ao fim da tarde, cá estavamos para as receber com um sorriso de orgulho nos lábios. A casa estava impecavelmente desarrumada!
No breve espaço de poucas horas morreram dois homens que ficarão, para sempre, ligados à nossa história: Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal. Os dois - um na ribalta, outro na sombra - tomaram as rédeas do poder e cavalgaram-no à bruta, naqueles anos loucos de 74 e 75. Concordando, ou não, com as suas opções ideológicas, temos que aceitar que deixaram marcas inapagáveis: foi nesses tempos que se implementou definitivamente o salário mínimo nacional, a universalidade das reformas e pensões e em que houve a maior subida de poder de compra, e de bem-estar, para amplas faixas sociais. Foi também, nesses tempos, que a reforma agrária foi institucionalizada e que ocorreu a nacionalização dos principais sectores da economia. Quanto a mim, muitos dos desequilibrios actuais da sociedade e economia portuguêsas, tiveram origem neste período louco.
Desses tempos tenho um recordação difusa e nebulosa: tinha apenas onze/doze anos. O Vasco Gonçalves era para mim um figura épica e romântica, uma espécie de pequeno Lénine português, e pensava que aquela do "Força, Força Companheiro Vasco... Nós Seremos a Muralha de Aço" revelava a justeza da revolução. Pouco depois, houve uma imagem que me ficou gravada para sempre e que me fez perceber que as coisas podiam dar para o torto. Uma dia, já na fase de decadência do Gonçalvismo, a televisão mostrou imagens de uma visita do Vasco Gonçalves à Lisnave (salvo erro), enquanto primeiro-ministro. Às tantas, começa tudo a gritar uma palavra de ordem - já não me lembro qual - de caras crispadas e punho no ar. O Vasco Gonçalves também... Além das imagens da televisão, lembro-me com clareza, da reacção do meu pai - um ferrenho PSD.
Tempos depois, aconteceu o 25 de Novembro, e acabaram os anos loucos.
PP: O Vasco Gonçalves morreu aqui no Algarve. Entrou no sábado, já cadáver, aqui no Hospital. Disse-me um colega meu, muito admirado: "Entrou à bocado o Vasco Gonçalves... já morto. Nenhum deste miudos sabia quem era!"
Sinais dos tempos!
PPP: Hoje é feriado em Lisboa... que sacanas!
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