Este é o meu post preferido de entre os meus. É preferido por ser dos mais autênticos e típicos. Depois de viver na vida real vivida, escrevi de jacto baseando-me nessa vida real a coisa de alguns minutos depois. Escrevi o que pensei tal e qual como o senti. Depois corrigi aqui e ali, reli e pensei que as pessoas me diriam: "Ai Ricardo... como eu te compreendo!" e "Tens toda a razão, há pessoas que são mesmo chatas e tal" ou ainda "É que a vida é mesmo assim!"... Qual quê! Este post provocou algumas das reacções mais extremadas, absolutamente imprevistas por mim. Aqui fica então o meu post de Terça-feira, Março 02, 2004
Lost in Translation
Eu tinha decidido que não ia falar de coisas infantis e desinteressantes: tinha acabado de me persuadir de que não ia puxar nem o assunto do cinema, por exemplo dos Oscars, nem um qualquer assunto de política, não ia falar no novo cd de ninguém e muito menos no facto de que os Tribalistas ainda estão no top ou de que o primeiro disco de Norah Jones reentrou nele. Também não ia falar do livro que ando a ler. E com esta determinação íntima pensei que as outras (colegas de trabalho com "a") não iam puxar de assuntos impróprios para a minha maturidade, pensei que houvesse um qualquer acordo tácito de não enfadonhamento mútuo.
Pois não é que mal acabo de pensar isto uma delas começa a dizer que a outra que ainda não tinha chegado com o tabuleiro tinha ficado a discutir porque não se podia substituir batatas fritas por arroz? E não é que a referida outra chega a reclamar que é injusto e coisas piores já não se poder substituir batatas por arroz? Mas se fosse só isto...
O pior é que a seguir ao arroz veio a conversa desnecessária sobre aqui nem se come mal de todo mas lá em cima às vezes é melhor mas aqui em baixo às vezes também é melhor só que lá em cima... e é claro que abruptamente a conversa mudou para uma inutilidade qualquer como nascer um dente a uma filha de que se fala sistematicamente por tudo e por nada e que aparece abruptamente por tudo e por nada.
Mas tudo isto seria bom se acontecesse uma vez por outra. Só que não acontece uma vez por outra. Acontece sistematicamente todos os dias da semana de trabalho ao longo de todas as semanas de trabalho ao longo do eterno. E acontece fora do trabalho quando aquelas pessoas que só sabem falar de coisas normais e adultas se encontram.
Mas mesmo tudo isto acontecendo sistematicamente sempre e em toda a parte ainda assim não seria mal nenhum se isto fosse a excepção das gentes. O pior e inelutável pior é que isto é que é a normalidade.
escrito por Ricardo às 13:10
Gosto muito do post seguinte. É um post intemporal, pelo menos para mim: penso estas coisas todos os dias, tanto de uma forma séria e sentida como de uma forma irónica também. E simpatizo com o boavisteiro. Gosto da "regularidade" dele: quando menos se espera, eis que surge com o seu post irónico. Gosto de mistérios e acho o boavisteiro o blogador mais misterioso do blog. Quem é ele afinal?
Quinta-feira, Abril 01, 2004
QUERO UM TOTOLOTO SÓ PARA MIM
Quero ficar rico depressa sem trabalhar.
Detesto trabalhar. É uma grande maçada, trabalhar. Dá muito trabalho. Cansa.
Eu devia ter nascido rico. Mas daqueles ricos que só vivem dos rendimentos. Não queria ser daqueles que se esfalfam a trabalhar para ficarem ainda mais ricos, senão não tinha piada nenhuma.
Por acaso, acho incrível esta mania de que se deve trabalhar.
"Quem não trabuca, não manduca." Ai sim? Por alma de quem?
Para já, comer dá trabalho a outros, não é? Atão, eu devia de ser dos que só comem, para dar emprego a muitos trabalhadores. Sim, que eu como alarvemente. Só à minha conta, muita gente tinha trabalho.
Eu acho que devia era ser TUDO de borla.
Era mais fácil ganhar-se a vida assim.
boavisteiro
escrito por Paulo às 23:53
Ainda cinco outras referências:
O post do Zoe a partir de um livro do Vergílio Ferreira, alguns dias atrás: gostei muito desse post por me identificar com ele. Isto é uma justificação muito egotista mas a sinceridade tem destas coisas.
O post da Lau com figura a dar machadada noutra figura: este é o post que mais me marcou. Para mim a arte mais elevada é a escrita, depois o teatro, depois a pintura, depois a música, depois a dança contemporânea. "Explicar" poeticamente experiências e sentimentos é muito difícil, para simplificar essa tarefa apontam-se experiências comuns, faz-se referência àquilo que sabemos que os outros sabem em vez de se "explicar". Mas quando se "explica" de uma forma poética e directa, então sim a arte é elevada. Esta imagem, postada a tantos do tantos, "explica" poeticamente e de modo directo e intenso muita, muita coisa. Há aqui sentimentos muito marcantes e muito bem "explicados" poeticamente.
Gostei muito dos vários poemas do g2, sobretudo de um que era do tipo marcha nacionalista.
A própria experiência de blogar aqui é marcante. É muito melhor do que a experiência de escrever num qualquer blog individual. Ler estes posts e comments todos, sempre, tem sido muito marcante, ou seja, muito bom. E vasculhar os arquivos e ler de maneira diferente coisas de que mal nos lembrávamos é... gratificante.
Agora vou tirar as lentes para apaziguar a pieguice!
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