Quando era miúdo achava imensa piada ao Carnaval. A minha coroa de glória foi mascarar-me de homem invisível, com quatro quilómetros de ligaduras enroladas à volta da cara e vestido com um smoking do meu pai. Suei como um alucinado mas fiz imenso sucesso. Teria um catorze anos. Lembro-me ainda de, adolescente, estar em Loulé com os meus pais, a ver passar o Corso com um frio desgraçado e a chover-me em cima. Não achei piada.
Já na Faculdade ainda houve umas tentativas carnavalescas, a melhor das quais no sótão de uma colega, em que um vestido de Panoramix fornecia cup generosamente alcoolizado a piratas, hippies, travestis, bruxas e afins. O melhor da festa foi uma roda de cantoria acompanhada à viola até às quatro da manhã.
Depois fui-me deixando destas coisas.
Hoje o Carnaval é uma boa oportunidade para pôr trabalho em dia e relaxar um bocado. De actividades de Carnaval, foi arranjar o material para o meu filho se mascarar de Darth Maul, cara pintada de vermelho e preto e tudo (foi um sucesso na escola, segundo me conta). Olho pela janela e sinto Lisboa meio mole e preguiçosa. Na verdade sou eu que estou meio mole e preguiçoso, suspeitando embora que meio país está na mesma. Contudo, continua muita gente crescida a carnavalar.
É aqui que entram as perguntas metafísicas: será que quando se cresce o Carnaval perde a piada? Será que os adultos que entram nas folias de carnaval não cresceram mentalmente? Ou sou apenas eu que envelheci precocemente? Que mudei de gostos? A verdade é que, se olho com curiosidade para estas andanças não me meteria nelas hoje nem que me pagassem. OK, se me pagassem bem, ia.
E dá para pensar nos motivos que levam tanto estrangeiro a pagar bem para desfilar no Rio. Ilusões. Que, se calhar, são mesmo bem importantes.
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