11 de outubro de 2013

Cinco mulheres e seus destinos

Norma Bengell

Esta semana, o Brasil perdeu uma de suas grandes atrizes. Norma Bengell se foi, aos 78 anos de idade, vítima de câncer no pulmão. Norma foi uma das divas da minha adolescência. Uma mulher à frente do seu tempo. Ganhou fama mundial pelo seu trabalho no filme "O pagador de promessas", que em 1962 venceu a Palma de Ouro, em Cannes.

Norma Benguell em cena de "O pagador de Promessas". 
Sua carreira cinematográfica ficou marcada pela ousadia. Foi a primeira mulher a expor-se, em nu frontal, num filme brasileiro - Os cafajestes - numa cena memorável que ocupou a memória afetiva, erótica e inconfessa de milhares de adolescentes como eu, por muitos e muitos anos.

Norma Bengell na primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro. 
A morte de Norma me fez pensar em outras mulheres importantes para a cultura brasileira. Ai, vasculhando a rede mundial de computadores, encontrei uma foto da "Marcha dos cem mil", um movimento organizado pelos estudantes, contra a ditadura, em junho de 1968, que ganhou as ruas do Rio de Janeiro e teve o apoio de artistas e intelectuais.

Uma foto dessa passeata virou história e traz cinco das grandes atrizes brasileiras, que viviam o despontar de suas carreiras naquele momento.

Da esquerda para a direita: Tônia Carreiro, Eva Vilma, Odete Lara,
Norma Benguell e Ruth Escobar, em foto histórica de junho de 1968.
Jovens atrizes, grandes mulheres.
A foto carrega hoje mais do que o seu registro temporal e revolucionário. Sinto vontade de saber o que aconteceu ou acontece hoje a cada uma delas. Não é difícil.

Uma rápida pesquisa na internet me permite - a partir do fato da morte de Norma - buscar o paradeiro das suas companheiras de caminhada naquele dia histórico e, depois, por toda uma vida.

Tônia Carreiro
Tônia Carreiro, por muito tempo dividiu com Fernanda Montenegro o título de grande dama do teatro Brasileiro. Tônia envelheceu com dignidade, mas preferiu a reclusão. Vive quase anônima, amparada pelo filho e por sobrinhos, no Rio de Janeiro.

Eva Vilma
Eva Vilma é a mais atuante de todas. Brilhou nos palcos e no cinema, mas foi na TV Globo que consolidou seu papel de grande atriz, com interpretações marcantes em novelas que entraram para a história da tele-dramaturgia nacional. No início da carreira fez par romântico nas telas e na vida real com John Herbert. Mais tarde, casou-se com outro galã da televisão brasileira, Carlos Zara.  O tempo passou e ela, ao que parece, lida muito bem com ele. 

Odete Lara
Odete Lara, preferiu a reclusão bem cedo. Fez mais de 30 filmes, ficou conhecida como a musa do movimento chamado "Cinema Novo", que teve em Glauber Rocha seu maior ícone. Odete tornou-se budista. Mudou-se para os Estados Unidos onde viveu por 17 anos em absoluto anonimato. Hoje, aos 84 anos, vive no Rio de Janeiro e, de vez em quando, se surpreende com a sua beleza, exibida nos canais de televisão que se especializaram em filmes antigos brasileiros. 

Norma Benguell, como se disse lá em cima, morreu esta semana. Muitos amigos dizem que o que a matou não foi o câncer, foi a depressão e o isolamento. Norma, no fim da vida, não conseguiu livrar-se das acusações de ter desviado dinheiro daquela que seria a sua grande obra, a filmagem de "O Guarani"

Ruth Escobar
Por fim, a quinta atriz da foto original, Ruth Escobar, é vitima do mal de Alzheimer. Vive em extrema dificuldade financeira. Seus bens, inclusive um teatro que leva o seu nome, são parte de um litígio familiar que não tem data para desenrolar-se. 

Seu olhar no vazio, nem de longe lembra a ativista que tanto fez pela cultura brasileira.   Não faz muito tempo, sua filha publicou um apelo dramático na internet. Um pedido de ajuda para que ela possa ter tratamento digno, assistência médica e cuidados de saúde. 

Cinco mulheres. Cinco damas da cultura brasileira. Cinco destinos distintos. A beleza da juventude passou com o tempo. A dignidade da contribuição delas à cultura brasileira, isso, nem o tempo pode apagar. 



       

3 comentários:

teresa disse...

Um interessante post. Quanto a Ruth, relembro a sua encenação de «Cemitério de automóveis», a que tive o prazer de assistir em tempos de censura. Foi incrível e ainda retenho a peça e a encenação na memória, passou em Cascais, num teatro em tenda, preparado para o efeito. Penso que há muito escrevi sobre isso, tantos anos depois. Desconhecia o seu estado de saúde.

T disse...

Muito bom este post. Triste saber porém, que em todos os países os artistas acam por ser esquecidos e maltratados.

T disse...
Este comentário foi removido pelo autor.