1 de abril de 2011

a propósito das ajudas externas e do mercado dos palpites

há uns tempos, ao introduzir uma peça sobre as agências de rating, os crescimentos e afins, josé alberto carvalho falava no ‘mercado dos palpites’.
nunca ele terá estado tão certo numa afirmação.
os palpites sobre percentagens de crescimento (ou diminuição) do pib são uma coisa próxima dos vaticínios futebolísticos: cada um dá o palpite de acordo com o que gostava que fosse.
a verdade também, é que nenhum dos palpitadores tem o menor problema em dar um outro palpite (que em nada tem a ver com o anterior) na semana seguinte.
nos últimos tempos a questão da ajuda externa tem tido uma presença só comparável à de deus na imaginação dos crentes: omnipresente até nos locais menos indicados.
é óbvio que portugal, tal como a esmagadora maioria dos países (com excepção dos que têm superavit), necessita de ajuda externa permanente, seja ela através de investidores particulares ou de outros estados (a noruega é um dos países que mais ’ajuda’ proporciona comprando dívida e a sua ‘fuga’ aos países do sul da europa foi um dos principais motivos de exposição fragilizada destes).
dizer como uma espécie de novidade dramática que ‘portugal já está a receber ajuda externa’ é uma coisa tão original como aquela que os admiradores do general la palisse lhe proporcionariam em homenagem na sua morte.
portugal, tal como os estados unidos, o reino unido, a frança, a itália, ou a esmagadora maioria dos países mundiais, recebe permanentemente ajuda externa.
o banco central europeu fornece ajuda a bancos de todos os países, incluindo os alemães, e a quase todos os governos da união. portugal é apenas mais um.
a itália tem uma dívida pública muito superior a 100% do pib e ninguém parece preocupado com isso; a da bélgica também tem 3 dígitos e ninguém fala em resgate, a do japão é quase 200% (sim, 200..) e é uma economia sólida com ratings excelentes (assim como tinha a islândia quando abriu falência).
as agências de rating são uma espécie de guarda avançada dos especuladores que as sustêm. nada disso é novo, mas é com isso que temos de viver.
uma espécie de necrófilos que atacam os que se colocam a jeito, mas que claramente tenham ainda condições de pagar, porque a assistência social não é o seu negócio.
ontem o senhor silva falava da autoridade que o governo tem para pedir ajuda ao fmi.
nos últimos tempos os constitucionalistas têm repetido à exaustão a autoridade legal do governo para pedir ajuda ao dito fundo.
os partidos, acham que o governo de gestão não tem poderes morais para nomear um director geral, mas têm a certeza que tem poderes legais para pedir a intervenção do fmi, que é uma coisa de gestão corrente.

mas mesmo que o governo o fizesse (e só se fossem loucos ou suicidas políticos é que puxavam a si essa responsabilidade), que plano o governo teria para apresentar como contrapartida à ajuda?
o que não foi aprovado e o fez cair?
um outro que nem sequer foi apresentado, mas que agora até o poderia ser sem a oposição ficar ofendida?
alguém acha que se chega ao fmi tipo puto ao pé do pai a pedir uns trocos para ir ao cinema?
no mercado dos palpites, também tenho direito a um:
a avaliar pela sondagens que vão sair amanhã… o granel vai ser muito maior do que aquele que temos agora.

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