8 de setembro de 2010

Back to school

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(imagem:http://cagle.com/)

O fragmento que se segue tem múltiplas implicações extensivas a desenvolvimentos da actualidade para lá das ambientais ou educativas. Ciente de que cortes orçamentais (também) contribuirão a médio prazo para situações dificilmente resolúveis (haverá maior riqueza para um país do que o aprender a reflectir criticamente? Será tal propósito viável quando metade dos alunos da escola são subsidiados em livros e refeições, chove nas salas de aula e a instalação eléctrica continua a oferecer risco?) fica-se a pensar que não basta certificar com diplomas para as estatísticas da OCDE (ai os números, os números!), sendo o mais importante um saber bem alicerçado não traduzido, decerto, em meia-dúzia de publicitados computadores "made in Portugal" ou mais umas obras (quase exclusividade das escolas secundárias). Fica, pois, transcrito, parte de um “clássico” certamente conhecido de muitos. Para que não restem dúvidas, destaque-se a não defesa do facilitismo em situações de aprendizagem (afirmação baseada em depoimentos de alguns jovens que, mesmo com delicadeza, utilizam o rótulo de “exigente” ao verificarem que a classificação das provas nacionais se revela, não poucas vezes, superior à conquistada ao longo do ano).
Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000 numa Universidade dos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia. O jovem que colocou a questão afirmou ainda que esperava a explicação de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um interveniente determinou a óptica humanista como o ponto de partida para a sua resposta da qual se transcreve um excerto:

[…] Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. […] Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa."

(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

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