29 de dezembro de 2009

o quanto ele gosta que o desanquem...

entre muitas e muitas coisas que lhe foram dizendo pela vida, uma falava que deveria sempre ser homem de justiça e não de vingança. tentou seguir esse, como outros conselhos, a maior parte das vezes não conseguiu. deveria antes ter falado de umas músicas que um rapaz, viajando entre fajão e barcelos ou vice-versa, por costume e bom gosto vai ouvindo e em tempos aconselhou e ele foi à procura, umas encontrou, outras não e falaram-lhe de outras, em vez de se meter em parvoeiras sobre o disco de natal de mr. zimmermenn. lida a ensaboadela que levou pelo cair da tarde, nada mais tem a dizer para além de que já o ouviu alto e baixo, em desbunda e sereno, pelo que devia ter estado quietinho como o dudu lhe dissera e ele não quis ouvir. casmurrices de velho. mesmo assim, no meio do vinagre do texto que bolsou, ainda deixou que Dylan escreveu das melhores canções do século e depois de dezenas e dezenas de rascunhos já não vai, como um dia prometeu num comentário deixado no “Alfobre” do César Ramos, alinhar o tal ajuste de contas com mr. Zimmermann, de quem para o resto da vida ficará órfão. quando a encontrar, pedirá desculpas à joan baez por ter sido incapaz de escrver o panfleto. ela vai compreender. está certo disso. e vai deixar mr. zimmermann em paz…

“If you see me this way
You’d come back and you’d stay
Oh, how could you refuse
I’ve been living the blues
Ev’ry night without you”

3 comentários:

carlos disse...

caríssimo amigo,

nunca deixes o dylan em paz.
são essas inquietudes e ajustes de contas que ajudam a compor o sal da coisa.
eu tenho (bem, nem sequer chego a ter) umas contas com a joan baez, por exemplo.
aquela voz irrita-me tanto que, garanto, me nascem borbulhas só de a ouvir (é o que agora de poderia chamar o efeito celine dion...). é que, ao contrário do dylan que não canta duas vezes da mesma maneira a mesma canção, a joan baez canta há 40 anos tudo da mesma maneira..
e se tenho com a joan baez, tenho também com imensos outros e outras.
muito pouco destas aversões primárias são coisas a levar a sério: são mesmo primárias.
mantém os teus ajustes de contas que isso ajuda a manter o espírito critico.

já agora, nesse circuito entre fajão e barcelos, falta lisboa, onde vou com a mesma regularidade que a fajão (frequentemente me acontece, se acordo a meio da noite, ter dúvidas sobre onde estou...)

gin-tonic disse...

Como bem dizes: "coisas primárias"...
A Joan veio a talhe de foice por causa do filme de Scorcese em que ela fala do Dylan, com carinho, um olhar cumplice, camarada, enquanto ele só falta dizer que "não conhece". Tão só! o panfleto era por ela, possivelmente sempre o mesmo registo de voz, mas deixou marcas.

"E antes? Allen Ginsberg passeava num supermercado, eu assobiava a ópera dos três vintens, a Branca estacionava o carro em frente À Escola Técnica, algumas pombas levantavam voo, a Joan Baez cantava para todos nós. Cantávamos."

Eduardo Guerra Carneiro em "Isto Anda Tudo Liagado."

Um abraço, uma Bom Ano, se possível

carlos disse...

as montagens nos filmes podem ser coisas boas ou más, epodem traduzir o que disse quem o disse ou dizer o que o realizador quer dizer.
como calculas, não faço, em rigor, a mais pálida ideia do que terá dito, em contexto, dylan sobre a baez.
sei no entanto o que ele escreveu no volume one das suas chronicles a propósito da senhora (da voz e da personalidade):
(joan baez) came down from another planet
querendo isto dizer um elogio rasgado.

quanto às marcas da baez já so me consigo lembrar das erupções cutâneas de cada vez que ela 'arrasa' uma canção (eu seu, isto nem chegam a ser contas por ajustar: é mesmo primário...)