13 de junho de 2009

perdoem-me o desabafo..

Ha coisa de 10 minutos recebi um telefonema. Era da minha avo, que tem 82 anos e me ligou inconsolavel.. haviam-lhe batido a porta. Ela abriu a medo. Abre sempre a medo, sempre depois de ir espreitar pela janela de onde se consegue ver, quem estara a bater do outro lado do portao. Abriu porque era uma mulher com duas criancas pequenas. Falava portugues 'a portugues'. Nao
estava mal trajada, nem as criancas. E a conversa foi curta. Perguntou simplesmente ' a senhora nao tera por acaso um pao, mesmo que seco, que me possa facilitar? É que os meus filhos estao com fome.' E nao argumentou. Nao justificou. A minha avo retorquiu 'oh minha Nossa Senhora, parece isto do meu tempo, parece que a miseria voltou..' E a mulher comecou a lacrimejar. E nao se lamentou. Nao argumentou. Nao justificou. Apenas baixou a cabeça e ficaram ambas no silencio. Dai a minha avo deu-lhe pao e dinheiro e a dita agradeceu, abalando com os pequenos que os engoliam literalmente, em passo mais acelerado.
Dai telefonou-me.. e fartou se de chorar, e so me dizia que era capaz de jurar que ha desde ha 70 anos nunca mais adivinharia ninguem a pedir pao. Pao. Simplesmente pao.
E pareceu-me apropriado partilhar o episodeo, numa altura em que se aplaude de pe um ordenado de 18 euros ao minuto (nao discuto se sao justos ou nao.. cada um tem a sua propria ideia). So me custa os pequeninos. E esta historia do pao.
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pics retiradas a partir do seguinte excerto:

Uma em cada cinco crianças portuguesas em risco de pobreza. Situação abrange menores que vivem em lares onde há desemprego mas também onde há trabalho. Nos países da UE, Portugal aparece em penúltimo lugar, apenas é ultrapassado pela Polónia.
Diário Iol.Pt

6 comentários:

teresa disse...

Tareca,
Infelizmente é a realidade, já aqui referi que no local onde trabalho muitos dos miúdos só têm como refeição razoável o almoço tomado no refeitório da escola (que cada vez é mais racionado, segundo os alunos e respectivos pais).
No caso pessoal (já cá ando há uns anitos), nunca imaginei voltar outra vez a observar uma divisão tão nítida entre classes. E receio, pelo andar da carruagem, ver tudo isto extensivo à saúde e à educação (escolas e hospitais para ricos e outros destinados aos pobres). Parece que o banco alimentar - com todas as virtudes e defeitos que possa ter - nunca teve tanta gente a recorrer aos seus serviços de distribuição como sucede nos tempos actuais.
E não há que pedir desculpa pelo desabafo, pois diz o povo (e bem) que "quem não se sente, não é filho de boa gente".

teresa disse...

... e passo a redundância "voltar outra vez":(

Luisa disse...

Os nossos governantes não querem saber de nós, os governantes da Europa tampouco e assim vai correndo a nossa vidinha. Já há muita pobreza encoberta e veio-me à lembrança uma cena que me marcou muito em miúda e que nunca mais esqueci. Pessoas em fila com marmitas para levarem sopa e pão para casa, chamava-se "Sopa do Sidónio", isto era por vezes a única refeição que esta gente fazia por dia.
É por estas e por outras que me insurjo quando ouço que o Cristiano Ronaldo gastou uma fortuna em champanhe, numa boite com Paris Hilton para comemorar a sua transferência para o RM. Odeio esta ostentação, odeio garanhões. Desculpem-me!

misi disse...

Isto foi a coisa mais bonita que já li nos últimos tempos. O drama real e humano, não as abstracções financeiras, do que é uma das piores crises de sempre.
Numa era em que o jornalismo profissional anda pela hora da morte, emergem os blogs para salvar a antiga e nobre arte da comunicação social. Os meus sentidos parabéns, não consigo conter um aperto na garganta, e quase me levaste ás lágrimas.

T disse...

Neste momento estão a descoberto as necessidades quer das crianças, quer dos idosos. E a respostas institucionais tendem a diminuir por falta de verbas. Avizinham-se dias muito complicados. E sim é escandaloso este tipo de vencimentos para jogadores de futebol. Excelente post sentido e muito actual. Beijinhos Tareca:)

Julio Amorim disse...

Porque é que na Suécia em 1973 não se via ninguém a viver nas ruas e, hoje, os sem-abrigo nas grandes cidades são às centenas - quando, paralelamente, a riqueza acumulada do país é proporcionalmente maior em 2009?
Falta de verbas...ou distribuição desequilibrada - promovida por uma classe politica privilegiada e alienada ?