13 de março de 2009

SEGUNDO DE DOIS POSTS, SOBRE BENFICA, PROMETIDOS À J.



Para captar as histórias simples das gentes dos bairros, não basta percorrê-los, ir lá de quando em vez. É preciso viver lá, sentir o cheiro, a gritaria, o silêncio também.
À parte os domingos de futebol, vai regularmente a Benfica. A irmã vive nas Pedralvas, também lá vive a mãe – fez há dias 90 anos! – e, pelo menos, uma vez por semana percorre Benfica. Vai a pé desde o metro até às Pedralvas. Gosta de Benfica, um bairro com gente nas ruas, com um pequeno comércio activo, dizem-lhe que já foi mais.





Normalmente visitava a mãe pela tarde, mas um dia aconteceu ir de manhã. Para fazer um pouco de tempo, como gosta de mercados, da vozearia, dos pregões, de todo aquela lufa-lufa e entrou pelo Mercado de Benfica dentro.
Ao dar a volta à praça demorou-se a observar as bancas de peixe. Uma chamou-lhe a atenção e ficou a olhar. Gostou da frescura do peixe , mas acima de tudo apreciou a calma, chamemos-lhe serenidade, do vendedor. Não aparenta mais de 70 anos e tem um gesto manso de falar com os fregueses, por vezes um sorriso. Gosta deste tipo de vendedores. Nada de espalhafatos porque o saber e a competência não necessitam de gritaria. Apeteceu-lhe comprar peixe. Chegado a casa, tendo comido o que comprara, confirmou as suas expectativas. Passou a ir a Benfica não só pela mãe, mas também pelo Mercado.
As bancas dos vendedores de peixe estão no centro do mercado. De quem ele fala encontra-se na parte interior do círculo. Trata-se da banca do Sr. João, sabe o nome porque assim lhe chamam os fregueses. Tem peixe de toda a qualidade, mas ele vai pelas corvinas, pelos pargos, pelos robalos, pelos besugos, pelos salmonetes, pelos sargos, sargos que nem sempre são fáceis de encontrar e todos provenientes do mar. Quando são de aviário, essa indicação está bem à vista, mas não é a especialidade do Sr. João. Importante: é a existência de um interessante equilíbrio entre o preço e a qualidade. Por exemplo no sábado os robalos estavam no “El Corte Inglês” a 20,00 euros o quilo, na quarta-feira o Sr. João tinha-os a 15,00 euros.


Diga-se, ainda, que o Sr. João tem uma simpática e eficiente ajudante, que arranja o peixe da maneira que o cliente quiser. Não é pormenor de somenos.
Esta quarta-feira o Sr. João tinha uns estupendos carapaus para assar. Não resistiu e comprou. Chegado a casa envolveu-os num molho à espanhola e em que substitui a salsa por coentros.
Com água na boca encerra o “post”.
Prometeu à J. dois “posts” sobre Benfica. Haverá mais um. O que ainda tem para contar de Benfica tornaria este “post” extenso e, como não anda aqui para maçar ninguém, voltará amanhã ou depois, o tempo necessário para alinhavar o resto da prosa.

1 comentário:

teresa disse...

Vendedores como este sr.João aqui retratado são os grandes merecedores de "posts" e a imagem do peixe é apelativa.
Há uns meses li um artigo jornalístico (este bem estruturado) sobre o peixe "de aviário", bem como à alimentação dada a estes animais de viveiro (nos EUA, será o mesmo por cá?) e nem me atrevo a escrever o que li quanto ao que lhes servia de alimento, fiquei literalmente em estado de choque (pensando no consumidor, é claro).
No entanto,um antigo ritual paterno - que eu acompnhei durante alguns anos - de chegar bem cedo à Ericeira para trazer "peixe vivo" começou, há tempo considerável, a cair em desuso, penso que ainda se encontra matéria-prima apelativa, mas parece que já não será exactamente a mesma coisa.