
Uma Primavera antecipada chegou sem se fazer avisar. Subitamente, tudo à nossa volta se tornou oferta de cores e cheiros tendo o próprio vento ficado acolhedor, tudo sem cobranças e livre de encargos à maneira generosa da natureza.
Um súbito aroma adocicado e o colorido dos campos levaram à reflexão sobre a importância das árvores e das flores nos textos poéticos lidos, ditos ou cantados ao longo dos tempos. Uma das primeiras manifestações peninsulares conhecidas, tece acusação aos falsos trovadores que , em provençal, só se sentiam inspirados no tempo das flores. Não me parece ser pesada acusação dado que, com a retirada daquela chuvinha narcisista (só queria que reparássemos nela), teimando em marcar presença, acredita-se na entrada em novo ciclo renovador de energias(que me desculpem os que sofrem de alergias a tanto pólen).
Todo este preâmbulo tem como objectivo introduzir algumas vozes de Primavera, umas de maior erudição, outras mais modestas,mas nem por isso menos marcantes em jeito de saudação a dias maiores que se avizinham (está para breve a mudança da hora).
Fica ainda a sugestão, caso os comentadores vejam interesse na mesma, de deixarem pequenas frases/citações relacionadas com o tema, pois estou certa de que após postagem me chegarão à lembrança(mesmo quando estiver em ambientes mais austeros), exemplos mais marcantes do que os referidos. O último repto, este mais arrojado (ou talvez não) é um pedido para que procurem a autoria dos pequenos exemplos truncados que se irão seguir e que não respeitam latitude, idioma ou cronologia:
1-“Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores”
2- “If you're going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair”
3-“Flores, música, o luar, e o Sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.”
4-“Where have all the flowers gone?
Girls have picked them every one
When will they ever learn?”
5- “Não há, não,
Duas folhas iguais em toda a criação.
(…) Umas vão e caem no charco cinzento,
E lançam apelos nas ondas que fazem;
Outras vão e jazem
Sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
Nem caem, nem gritam,
Apenas volitam
Nas dobras do vento.
É dessas que eu sou.”
Adivinhou a Rosarinho.
5 comentários:
Olá Sis,
Antes de mais, vai uma aposta em como as lindas flores da fotografia são magnólias?
Agora vamos aos desafios das adivinhas (Nalguns deles precisei da ajuda "google"):
1- Poema de Ruy Belo (não conhecia e gostei de ler na íntegra).
2- É o famoso hino dos hippies, escrito por John Phillips, cantado por Scott McKenzie.
3- Fernando Pessoa (Não tenho a certeza se não é do heterónimo Ricardo Reis?).
4- Foi escrita e cantada por Pete Seeger. Três versos deste poema (não sei quais)pertencem a uma cantiga tradicional ucraniana. Pete Seeger encontrou esses versos num romance de Sholokhov com o título " And Quiet Flows the Don" e durante um ano tentou descobrir a cantiga ucraniana original. Ao fim de um ano, desistiu e escreveu a letra de: "Where have all the flowers gone?"
5- Poema de António Gedeão (também não conhecia e gostei de ler na íntegra).
Agora vamos ao teu "réptil":
1- É a terceira quadra de uma linda cantiga irlandesa e vem perfumada de urze:
"For the breezes blowing o'er the seas from Ireland,
Are perfumed by the heather as they blow,
And the women in the uplands digging pratties,(pratties: Irish dialect for "potatos")
Speak a language that the strangers do not know.
2- É uma famosa "Nursery rhyme". Consiste apenas numa quadra, mas vou omitir o primeiro verso, pois é o título - que contém a palavra "roses":
..................
A pocket full of posies
A-tishoo, a-tishoo
We all fall down.
3- Excertos de um conto muito florido onde a rosa é uma palavra-chave:
"She said she would dance with me if I brought her red roses".
"Give me a red rose," she cried, "and I will sing you the sweetest song".
"My roses are white," it answered; "as white as the foam of the sea, and whiter than the snow upon the mountain".
............
"Give me a red rose," she cried, "and I will sing you the sweetest song".
"My roses are yellow," it answered; "as yellow as the hair of the mermaiden who sits upon the amber throne, and yellower than the daffodil that blooms in the meadow".
.....................
"Give me a red rose," she cried, "and I will sing you the sweetest song".
"My roses are red," it answered, "as red as the feet of the dove, and redder than the great fans of coral that wave and wave in the ocean-cavern".
...............
"If you want a red rose," said the Tree, "you must build it out of music by moonlight, and stain it with your own heart's-blood...".
Desculpa se me estendi em excesso...
Ah, esqueci-me de te dizer que relativamente ao "réptil" (1), a partir de agora vai ser: "Dear Pratty- para aqui, Dear Pratty - para acolá...
Well... se não houvesse quotas eu diria "Insselente"! Só fiquei surpreendida por não teres reconhecido o Pessoa ortónimo, quanto a mim o mais evidente(3), segue o início de um poema que tem sido livro de instruções (ainda me vou dar mal com isso, mas depois de um ano tão importante e cheio de cargos que eu não queria...o que queria era aulas e nunca pedi nem pedirei "galões"- não me refiro ao cafezinho cooom leite-, enfim...):
«Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura (...)»
Teresa,
Deixo-te aqui a letra da cantiga irlandesa "Galway Bay". Acho-a lindíssima. Se não encontrares no "you tube" diz-me que empresto-te o CD.
If you ever go across the sea to Ireland,
Then maybe at the closing of your day,
You will sit and watch the moon rise over Claddagh,
And see the sun go down on Galway Bay.
Just to hear again the ripple of the trout stream,
The women in the meadow making hay.
Just to sit beside a turf fire in the cabin,
And watch the barefoot gosoons at their play.
For the breezes blowin' o'er the sea from Ireland
Are perfumed by the heather as they blow
And the women in the uplands diggin' praties
Speak a language that the strangers do not know.
Yet the stangers came and tried to teach us their way.
They scorned us just for bein' what we are.
But they might as well go chasing after moon beams,
Or light a penny candle from a star.
And if there's is going to be a life hereafter,
And somehow I am sure there's going to be,
I will ask my God to let me make my heaven,
In that dear land across the Irish sea.
Glossário: "Gossons" é dialecto irlandês (como "pratties"...). Os gossons são "messinhos" (em dialecto português das missinhas como nozes as duas).
*"gosoons" (e não gossons= ide filhos):-)
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