26 de janeiro de 2008

a liturgia do Amor freirático-2


Nas Mónicas, era a Gamarra que o Marquês de Gouveia obrigara a professar, depois de a comprar ao marido, feita pássaro de encêrro para que o ilustre Mascarenhas vivesse sossegado de ciúmes, recebendo na cela o freirático Valentim da Costa Noronha, e era outra madre que dava entrevistas ao Conde do Rio; no Convento de Santana era apanhado o dr. Luís Borges de Carvalho, corregedor do bairro do Rossio, que paga com ano e meio no Limoeiro as delícias de uma noite de claustro, era o infante D. Francisco que não satisfeito com as preferências da madre D. Mariana de Sousa frequentava outra cela onde ia devorar pastelinhos de "boca de dama" e lagostim para as suas debilidades de comilão emérito, e era a própria abadessa que fugia para a Olanda com um Capuchinho; no da Rosa era a cigana Margarida do Monte (Sóror Joana Vitória) que atraía à cela, em que se lhe mudara a alcova de mulher-dama, um fidalgo disfarçado em carvoeiro que vai a seguir parar às duras entranhas julgadoras do Desembargador Bacalhau, era a Madre Glória enganando o freirático Frei Pedro de Sá e fazendo-o "Côco de Cupido", e ainda era outra ave da mesma gaiola que ia tornando assassino o médico da clausura, surpreendido pela abadessa , emborcado no catre; eram aqui em Odivelas, quatro cónegos fidalgos da Basílica Patriarcal presos pelo Patriarca por irem rebuçados em véspera de S. Pedro (1744) cantarm loas às freiras, e era um filho do vice-rei da Índia, António de Melo, que tendo furtado uma moça de côro a levou à força para Frielas, primeiro à garupa e depois agarrada à cauda do cavalo até partir um braço; no Salvador era preso o fidalgo de Almoster D. Luís da Silveira, às 9 da noite de 26 de Maio de 1744, apanhado em flagrante delito, e por autêntica proeza ia parar à Torre de Belém o cavaleiro maltês D. Lourenço de Almeida: eram ainda o provincial de S. Francisco surpreendido a violar um mosteiro, o Conde de Valadares que se disfarçava de manto e toucas, para ir falar a uma leiga de Santa Clara, este, aquele, aqueloutro, todos enfim que assaltaram o convento do Calvário para provar a "Fritada de Amor, ou o de Santa Clara para mordiscar os biscoitos proibidos.

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Gustavo Matos Sequeira
"Relatos de vários casos notáveis e curiosos sucedidos em Lisboa",
1925

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