o ecr (efficient consumer response) foi uma coisa 'inventada' nos anos 90 para justificar que tudo nas empresas da distribuição (e a montante destas, na produção) deve ser feito com base da tal tal resposta eficiente ao consumidor.
em todos os congressos do ecr, as comunicações da wal-mart (o maior grupo mundial da distribuição e com vendas comparáveis ao produto interno bruto português) são esperadas com enorme expectativa.
naturalmente seguidas da maior desilusão porque todas as suas comunicações são uma espécie de 'uma hora a fingir que vos dizemos alguma coisa sobre como funcionamos'.
se algumas das teorias do ecr são indispensáveis para uma melhor racionalização dos processos de trabalho, eliminação de redundâncias, encurtamento de prazos, diminuição dos custos, outros são pura redenção a ditadura do consumidor, seja lá isso o que for.
a wal-mart tem, obviamente, coisas excelentes e um controlo inexcedível sobre todos os processos de compra, venda, existências em armazéns ou nas diversas lojas dos seus produtos.
por exemplo, se eu chegar a uma loja á procura de um pacote de cereais e aquela loja não os tiver, a caixa informa-me imediatamente qual as lojas mais próximas onde o poderei adquirir.
esta necessidade de responder às necessidades do consumidor faz com que, por exemplo, a cadeia japonesa 7-eleven mude os lineares durante o dia por forma a que, por exemplo, os produtos de pequeno almoço estejam mais acessíveis de manhã... e os de refeições prontas estejam mais acessíveis ao fim do dia. ou que o espaço para as fraldas nos lineares seja maior nas novas zonas de expanção urbana onde os habitantes são casais jovens.
no entanto, felizmente digo eu, esta capacidade da wal-mart não é muito eficaz fora dos estados unidos e dos países mais fortemente influenciados pela cultura americana.
a sua grande aposta de entrada na europa foi a alemanha por ser o mercado onde o hard-discount está mais desenvolvido e ser esse o formato ideal para a wal-mart.
achando que em equipa que ganha não se mexe, acharam que poderiam jogar com os mesmos jogadores e com a mesma táctica em todos os campos.
resultado: os consumidores alemães acharam-se incomodados com a 'disponibilidade' americana nos lineares que achavam intromissão na sua livre escolha, e os funcionários, obrigados todos a aprender inglês, também acharam pouca piada à coisa.
resultado: vender a operação e deixaram-se de aventuras europeias... (os outros mercados onde posteriormente entraram na europa vão pelo mesmo caminho).
aparece-nos agora a última novidade 'made in wal-mart':
os horários de trabalho dos seus quase milhão e meio (!!!!) de funcionários em todo o mundo passará ser determinado pelas p.o.s. (as caixas de saída).
em todo o mundo, todas as grandes empresas da distribuição organizam, naturalmente, os seus turnos de trabalho em função do maior ou menor movimento de clientes nas lojas.
ao fim de semana ou nas épocas sazonais ou festivas há mais caixas abertas, por exemplo.
mas o que agora a wal-mart nos apresenta não tem a ver com um planeamento dos turnos de trabalho, em que hoje um trabalhador sabe a que horas vai trabalhar amanhã...
o que agora se nos apresenta é a mais completa liberalização dos horários de trabalho em função do número de clientes nas lojas, fazendo com que os trabalhadores sejam uma espécie de bombeiros 24 horas disponíveis para atender o 'bip' de chamada da loja para se apresentarem ao serviço, sem saberem quantas horas lá ficarão.
como os trabalhadores americanos são pagos à hora e à semana, para além de não saberem quando trabalham, vão deixar de saber quanto ganham.
como contrapartida, a wal-mart afirma pagar bem acima do ´salário mínimo federal americano', ou seja, pagam em média uns míseros 8,3 euros á hora.....
não estou a exagerar: é ao que corresponde os 10,11 usd que a wal-mart paga em média aos seus funcionários nos estados unidos. o que, sendo uma média, está inflacionada pelos salários mais elevados e será bem menor para os funcionários das lojas.
tudo em nome da resposta eficiente ao consumidor.....
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