Horácio. Ars poetica. 383.
Nasci livre e fui, lentamente, sendo agrilhoado nas convenções daquilo que, pouco cientificamente mas com perspicácia, foi denominado superego. Nada disto tem a ver com Pérez-Reverte, claro, mas é bom recordar que muitos dos seus personagens não só não dominam a sua sombra como ainda por cima têm medo dela e tratam-na mal.
O superego é a nossa sombra. Dou-me bem com ela. Na verdade até lhe encontro encanto e funcionalidade, pelo menos algumas vezes. Gosto, por exemplo, de abrir e fechar a porta do carro às senhoras, de lhes dar o lugar sentado, de as deixar passar à frente numa porta ou elevador. Por outro lado, o hábito instilado desde a tenra infância de comer tudo o que está no prato já me levou a indisposições várias, para não falar na luta diária contra o peso a mais.
A minha liberdade, no meu estado de homem livre, implica uma sombra. Essa sombra é a linha que demarca a minha liberdade da liberdade do outro. E é nesse jogo de sombras que interagimos. Homens livres, em busca e a caminho do outro (Lévinas dixit, mais ou menos).
E quem não adormeceu até este ponto, já agora, descubra o que quer dizer a citação do Horácio em epígrafe neste post. E não me perguntem a mim o seu significado – a culpa é do Sombraclara, que lhe deu para se meter com os patrícios – que eu só a pus porque achei que ficava bonita lá em cima!...
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