17 de junho de 2006

Umas e outras sobre a Copa

Assisti há pouco a vitória de Portugal sobre o Irã. Tinha visto também o primeiro jogo, com Angola, e minha impressão do time português não tinha sido muito boa; mas então assisti o jogo de Trinidad contra a Inglaterra, e ontem a horrorosa partida do México com Angola, e entendi que essas seleçõezinhas nanicas vieram à Copa apenas para enchouriçar. Um empatezinho aqui, outro acolá, e já está bom. O mau futebol dessas partidas deve-se a elas, e não às seleções mais fortes, que fazem a sua parte: atacar e atacar.

Aos sistemas defensivos radicais chamamos no Brasil "retranca" ou "ferrolho": é o espírito dos que só visam a se defender, renunciando a qualquer ataque. E é o espírito desses timecos. Parabéns aos amigos portugueses que despacharam um deles, e que se classificaram às oitavas com méritos (e com o Cristiano Ronaldo finalmente dizendo a que veio; jogou muito bem).

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Aos excessos místicos do Brasil faltava pouca coisa. Uma lacuna a preenchemos agora: temos um Buda por centroavante. Ainda atende por Ronaldo, mas parece cada vez mais no Nirvana, especialmente quando dentro de campo.

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Os amigos se lembram que Apolo deu a Cassandra o dom da profecia; ela, sabiamente, o recusou. O deus, enfurecido, a castigou fazendo com que mantivesse seu dom, mas sem contar com o crédito de quem a ouvisse. Assim, previu a ruína de Tróia, mas não lhe deram bola; e igualmente a ignoraram em outras previsões de gênero catastrófico (e, certamente, também não a ouviram se previu felicidades; o diabo é que felicidades não dão manchetes, nem perduram nos épicos).

Não é possível ser Cassandra quando o assunto é seleção brasileira: todas as tragédias são previstas e acreditadas - até mesmo aquelas que efetivamente venham a acontecer. Depois do acachapante futebol mostrado ontem pela Argentina contra a Sérvia, o país é unânime: se jogarmos contra eles, perderemos de setenta e dois a zero, o Messi vai fazer dez gols de bunda e não conseguiremos nem mesmo um mísero arremate ao gol. Espalhou-se o pânico. Já agora o Ronaldinho Gaúcho é um firuleiro inconseqüente, o Ronaldo foi pro céu, o Adriano não presta, o Robinho é inexperiente, o Dida é frangueiro, o Parreira sempre sofreu de Parkinson e ninguém nunca viu, oh, é o inferno.

Como esse jogo nos transtorna.

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Minhas apostas para as oitavas de final:

Equador vs. Suécia
Argentina vs. México
Inglaterra vs. Alemanha
Portugal vs. Holanda
Itália vs. Austrália
Coréia vs. Ucrânia
Brasil vs. Gana
Espanha vs. França

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