11 de novembro de 2005

Uma cidade (quase) perfeita

Hoje voltei a sentir que vivo numa espécie de paraíso. Acordei à hora habitual e toda a gente se despachou ao ritmo normal. Viemos a pé desde o bairro periférico onde moro até ao centro da cidade. Atravessámos o Jardim Público e a minha filha andou de baloiço durante 10 minutos (é bom ver um sorriso feliz antes das nove da manhã). Saímos pela porta oposta à que entrámos, atrevessámos a rua e estavamos no infantário. Abraços apertados, beijinhos e uma despedida com a certeza do reencontro.
Ainda não eram nove da manhã. Andei mais 200 metros e cheguei ao escritório. Subi os estores e a luz invadiu o gabinete de trabalho. Fiquei um pouco a olhar pela janela que dá para o Largo da Câmara. Gente que passa apressada para um dia de trabalho. Gente bonita e menos bonita. Liguei a "música" e o Miles Davis desatou a recitar um poema naquela forma única de tocar trompete.
Digam lá se não vivo na cidade quase perfeita? Só não é perfeita porque existe propriedade privada, porque uma massa de gente se move sem conseguir usufruir daquilo que eu usufruí hoje pela manhã, porque os que sempre cá viveram apostam em a transformar numa cidade igual às outras, com o seus foruns comerciais e outras coisas que tais (versejei). Querem o "desenvolvimento", dizem eles. Eu também quero. Mas não há melhor indicador de desenvolvimento que as palavras da minha filha quando saiu hoje de casa: "cheira a manhã pai".
Ela já sabe que as manhãs têm cheiro. A maioria dos adultos já se esqueceu.
Tenham um dia feliz e não me batam com muita força só pelo facto de, usando uma linguagem muito querida aos cultores da ortodoxia dominante, eu viver em contraciclo.

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