"(...) O pressuposto de agradar a audiências sempre se colocou no jornalismo português, corporizado por histórias apelativas que dessem resposta às necessidades do público destinatário dos meios de informação. É o eterno dilema entre a informação concebida numa perspectiva objectiva e factual, norteada por princípios éticos, contrapôndo-se a um outro tipo de informação em que predominam as notícias que vão de encontro ao subconsciente e aos desejos mais secretos das audiências.
Nos anos 90, com o advento da televisão privada, surge na sociedade portuguesa ,um fenómeno social inédito, que revoluciona os conteúdos informativos: é a consciência do vulgar cidadão mais despojado de meios culturais e económicos, que pode aceder do anonimato a um reconhecimento público da sua necessidade, da sua queixa e mesmo da sua vida privada. É o que acontece com programas variados, como a "Praça Pública" , o "Juiz decide" e "Perdoa-me".
Em momentos de confronto social entre a população e instituições é fácil ouvir como leitmotiv a expressão "Vamos é chamar a SIC"... E o que resulta interessante deste litígio é que os problemas quando mediatizados, sobretudo na televisão, ganham força inesperada resolvendo-se situações aparentemente irresolúveis.
Esta nova relação entre a informação e a população, gera efeitos perversos a nível jornalístico: as instituições e organismos oficiais receiam cada vez mais o poder dos media, preocupando-se duma forma crescente com a sua imagem pública, o que implica a criação de mecanismos sofisticados de manipulação da opinião pública, a partir das próprias fontes de informação.
Neste processo de "dar a voz" aos despojados do poder, nem tudo é tão ideal assim: levantam-se questões de ordem ética, tais como a exposição de menores a um público ávido de situações dolorosas, surgem pormenores privados submetidos a complicados rituais mediáticos que os despojam literalmente de sentido. Será de pôr em questão, se se trata de facto de objectivos jornalísticos de isenção e de assertividade, numa perspectiva de justiça social, ou apenas de um critério editorial de alcançar maior público.
A crescente urbanização implica cada vez mais o isolamento de todos nós. Não conhecemos os nossos vizinhos nem as suas vidas e a nossa não é suficientemente interessante para suscitar controvérsias. As relações sociais e humanas fragilizam-se, por um lado devido ao ritmo alucinante da vida urbana e por outro devido a um crescendo invasor da tecnologia que tende a dominar todo o processo de ocupação de tempos livres. As fronteiras entre vida privada e pública abatem-se e não é percepcionável o que daqui resultará.
Conhecemos bem aquilo que de inconveniente advém da excessiva concentração de pessoas num espaço urbano mal preparado e infra-estruturado para o efeito. Aprendemos a defender-nos das multidões, da confusão, das eternas filas de espera, mas estamos em situação de profundo débito no que concerna a laços e teias de solidariedade social, o que implica solidão, insatisfação e uma série de desejos por cumprir e sempre adiados.
O público quer ver, ouvir tudo o que é de mais íntimo, quer penetrar naquilo que não conhece, quer desvendar significados de transgressões de marginalidade, do luto. Quer fazê-lo em estatuto de total segurança, em sua casa , sem se magoar e sem correr riscos(...)"
Nos anos 90, com o advento da televisão privada, surge na sociedade portuguesa ,um fenómeno social inédito, que revoluciona os conteúdos informativos: é a consciência do vulgar cidadão mais despojado de meios culturais e económicos, que pode aceder do anonimato a um reconhecimento público da sua necessidade, da sua queixa e mesmo da sua vida privada. É o que acontece com programas variados, como a "Praça Pública" , o "Juiz decide" e "Perdoa-me".
Em momentos de confronto social entre a população e instituições é fácil ouvir como leitmotiv a expressão "Vamos é chamar a SIC"... E o que resulta interessante deste litígio é que os problemas quando mediatizados, sobretudo na televisão, ganham força inesperada resolvendo-se situações aparentemente irresolúveis.
Esta nova relação entre a informação e a população, gera efeitos perversos a nível jornalístico: as instituições e organismos oficiais receiam cada vez mais o poder dos media, preocupando-se duma forma crescente com a sua imagem pública, o que implica a criação de mecanismos sofisticados de manipulação da opinião pública, a partir das próprias fontes de informação.
Neste processo de "dar a voz" aos despojados do poder, nem tudo é tão ideal assim: levantam-se questões de ordem ética, tais como a exposição de menores a um público ávido de situações dolorosas, surgem pormenores privados submetidos a complicados rituais mediáticos que os despojam literalmente de sentido. Será de pôr em questão, se se trata de facto de objectivos jornalísticos de isenção e de assertividade, numa perspectiva de justiça social, ou apenas de um critério editorial de alcançar maior público.
A crescente urbanização implica cada vez mais o isolamento de todos nós. Não conhecemos os nossos vizinhos nem as suas vidas e a nossa não é suficientemente interessante para suscitar controvérsias. As relações sociais e humanas fragilizam-se, por um lado devido ao ritmo alucinante da vida urbana e por outro devido a um crescendo invasor da tecnologia que tende a dominar todo o processo de ocupação de tempos livres. As fronteiras entre vida privada e pública abatem-se e não é percepcionável o que daqui resultará.
Conhecemos bem aquilo que de inconveniente advém da excessiva concentração de pessoas num espaço urbano mal preparado e infra-estruturado para o efeito. Aprendemos a defender-nos das multidões, da confusão, das eternas filas de espera, mas estamos em situação de profundo débito no que concerna a laços e teias de solidariedade social, o que implica solidão, insatisfação e uma série de desejos por cumprir e sempre adiados.
O público quer ver, ouvir tudo o que é de mais íntimo, quer penetrar naquilo que não conhece, quer desvendar significados de transgressões de marginalidade, do luto. Quer fazê-lo em estatuto de total segurança, em sua casa , sem se magoar e sem correr riscos(...)"
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