9 de abril de 2005

Melodia e Emoção

Melodia e desenho emocional é o que eu amo na música. Mais do que o ritmo. Não interessa se a voz é bonita ou não, poderosa ou não: o que interessa é que saiba cantar, com melodia e emocionalidade. É por isso que o rap não serve nem o power metal. É a melodia e as emoções que fazem com que goste de música. A transmissão de emoções é imediata e intensa, daí ser absurdo criticar a música quando ela é imediatista. Daí as canções dos Nirvana serem muito boas, apesar do contexto sugerir que não passam de um fenómeno comercial tornado invulgar por um suicídio.

A estranha discrepância entre melodia simples de recursos pobres e as emoções construídas em sucessão, o peso intenso destas na imponderabilidade de uma sequência de cinco notas que dão lugar a três ou quatro acordes vulgares em sucessão. As cinco notas e os quatro acordes, só por si, não são quase nada. Mas a intensidade e o significado da voz despoletam as emoções em potencial da melodia que por sua vez faz reflectir em difusão aqueles significados.

Se fosse professor de música e quisesse exemplificar o que significa, com a guitarra, ter alguma coisa, de facto, para dizer e fazê-lo com extrema intensidade, apontava a segunda intervenção de guitarra eléctrica em I Could Have Lied (Red Hot Chili Peppers). A construção, o controlo emocionais de For You (Tracy Chapman) são magistrais, tudo com uma sequência mínima de notas e com os acordes mais comuns. A impetuosidade da interpretação, no primeiro caso, e a própria estrutura da canção, no segundo caso, também contribuem para as emoções provocadas.

Simplicidade, melodia e emoção no controlo da voz, no uso simples da guitarra: o que eu amo na música.

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