28 de abril de 2004

As misseses

(Pronto.. voltei. Espero que com postas mais ou menos regulares. :j Começo assim com um assunto irritante, repetindo um texto que tenho lá no meu coiso. Quando voltar a entrar no espírito deste coiso própriamente dito, deixarei de o fazer.)

Não estou habituada a que a televisão nacional apresente programas de qualidade, embora o faça ocasionalmente. No entanto, nunca esperei ver algo tão imbecil como o mais recente reality show que seleccionará a próxima miss Portugal.

Não sei se viram ou não viram. Eu vi uma vez e chegou-me. São quatro anormais, armados em durões, armados em profissionais a valer, profissionais competentes ("porque o mundo real é diferente, a vida é dura, mais vale que comecem a ser abusadas desde já") a serem o mais cruéis possível com as concorrentes que lá aparecem. Excesso de zelo, já se vê.

São sobretudo miúdas, raparigas muito jovens, talvez menores, não sei. Chegam lá todas embonecadas, a maioria é de uma ingenuidade extrema. Estacionam à frente do tal júri e começa a selvajaria. O que algumas ouvem é o suficiente para destruir a auto estima do Mourinho. Parece um auto-de-fé. Neste caso, um auto-de-beleza.

Julgo que qualquer pessoa sabe avaliar a importância que têm o aspecto físico. Não me parece complicado perceber que o aspecto físico tenha uma importância redobrada na adolescência, nos processos da formação do eu. Daí que este programa além de mau, seja perigoso. Que talvez vá causar uma data de complicações a quem se presta a concorrer. Que vá influir negativamente na sua personalidade, no seu futuro. Sobretudo incomoda-me que o façam com esta leviandade, com esta impunidade.

Isto para não falar da importância que se dá à beleza, à manipulação da beleza, à industria de cosméticos e de vestuário por exemplo. Nunca gostei das misses, possivelmente por achar que aquilo, além de não servir para coisa nenhuma, alimentava a necessidade de nos acharmos belos. Alimentava, alimenta, a angústia de quem não se sente belo. De quem, como eu, sabe não corresponder ao boneco idealizado. Padronizado.

Por isso, acho indecente, acho odioso, acho ordinário este programa de televisão. Um programa, que através de quatro fantoches, se aproveita de raparigas aspirantes a lolitas e que deliberadamente as esmaga. Enquanto as misses eram uma descriminação positiva, menos mal. Infelizmente, não é disto que se trata. Trata-se de degradação, de humilhação. O que me deixa mais danada é saber que isto não é casual, isto acontece porque "alguém", muito espertinho, acha que assim se conseguem audiências, que se chama a atenção das pessoas. Talvez consigam, mas não mais à minha custa.

Tudo isto é -- além de perverso, além de cínico -- perigoso. O que eu gostaria de ver era uma das miúdas, das muitas que saem de lá visivelmente transtornadas, a processar esta canalhice por danos morais. Os quatro anormais, a produção do programa e a SIC. Infelizmente, calculo que elas, ou os pais, tenham que assinar qualquer tipo de pré contrato onde essa situação seja prevista. É triste. É realmente muito triste.

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