11 de outubro de 2013

João César Monteiro- um olhar em retrospectiva


João César Monteiro- fotografia de Patrick Messina (1996)
A magia do cinema, para além de nos transportar para outros tempos e lugares é a de retratar a nossa história, reavivando memórias, valores e momentos que ali ficam eternamente guardados, à espera de ser revistos e novamente interpretados à luz de novas gerações.
É por isso que iniciativas como o Córtex- Festival de Curtas-Metragens de Sintra devem ser apoiadas e acarinhadas, nunca deixando de reconhecer-lhes valor. 
A sessão de abertura deste festival mostrou numa homenagem a João César Monteiro a colecção de curtas do realizador.
Para além de nos levar a um universo muito próprio cheio de dicotomias, contradições, um tom sempre provocador e acutilante temperado de um “non-sense” refinado; as pequenas histórias fragmentadas que nos trouxe revelam um sentido mordaz de captar um retrato de um país e dos seus valores.

Em 1971 , o “provérbio cinematográfico”: «Quem espera por sapatos de defunto, morre descalço» que deu nome a uma das suas curtas desse mesmo ano, queria dizer muitas coisas que ainda hoje são de uma actualidade desarmante.

Nunca antes tinha sido feita uma exibição das curtas do realizador, o que por um lado me espantou; mas o que mais me entristeceu foi saber; por uma das organizadoras desta mostra retrospectiva (Isabel Strindberg) as condições pouco (ou mesmo nada) favoráveis em que o património cinematográfico é arquivado e preservado. São obras históricas, que datam de uma época e que, além de excelentes documentos de investigação fazem parte da cultura de cada um! 

É verdadeiramente lamentável a forma como as instituições responsáveis não se preocupam com a preservação, algo prioritário e urgente (apesar de reconhecer a ginástica financeira a que muitas delas são obrigadas no contexto que vivemos).


Curiosamente neste encontro, tivemos ainda o prazer de ouvir Liliana Navarro, uma italiana fascinada com o universo de João César Monteiro e que fez a sua tese de doutoramento sobre uma das suas obras. Criou ainda uma página onde partilha informação sobre o seu espólio, por dizer que esta estava pouco acessível a todos. 

E no fim, deixou-nos uma pequena reflexão em jeito de brincadeira: “é preciso ser uma estrangeira a vir estudar o vosso património?”. 

1 comentário:

teresa disse...

... e acrescentaria a oradora francesa, a informar que, no início de 2014, a cinemateca do seu país lhe dedicará um ciclo e, pela ocasião, irão editar os textos críticos assinados por JCM que, na década de 60,foram publicados na 'Cinéfilo', em 'O tempo e o modo' e ainda no DL :)