20 de agosto de 2011
As cidades também têm um coração
(imagem: Uma tarde no Rossio, Dr. Marjay)
Viajando através de imagens de diversas épocas a representar esta praça no coração da cidade, interrogo-me se serão os locais a assistir à passagem do tempo ou se este último, impávido e sereno, se limita a assistir a variadas transformações.
E como a mudança também abrange as ligações sociais entre os diversos actores acabo por escolher, entre várias possibilidades, um registo dos anos 60. Recorrendo à memória que, até hoje, tem sido amiga inseparável, viajo no tempo até à recuada infância através desta fotografia a preto e branco. Recordo a visita à pastelaria Suiça (então «Suissa») segura e confiante, apoiada na mão materna. No local, reparo que os empregados se dirigem a minha mãe num código estranho para os ouvidos de uma miúda de cinco anos. Percebo algo como «vossa excelência», expressão insólita que, mal deixo o local, não descanso enquanto não é totalmente clarificada.
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14 comentários:
Outros tempos... não digo que gostaria que me tratassem por "vossa excelência", mas agradeço que não me tratem por "tu"...
Detesto quando alguns funcionários, principlamente os de repartições públicas, começam a tutear-me como se tivéssemos crescido juntos, só porque são mais velhos ou têm algum tipo de autoridade.
Ainda há tempos me virei para uma e disse-lhe "A Senhora não me trata por tu. Não nos conhecemos de lado nenhum e eu não lhe dei confiança para tal". Ela entupiu e toda a gente que estava na sala de espera ficou a olhar para mim como se estivessem a ver uma entidade superior. Vim a saber mais tarde que a parvalhona se aproveitava da ignorância e simplicidade das pessoas da minha terra, principalmente dos mais velhotes, para tirar sarro da cara deles, tratá-los mal e por aí fora. só sei que a partir daí ela me começou a tratar por Dona. É demais, visto que não sou casada, mas o respeitinho é tão bonito, que a deixo tratar-me assim... :D
Na foto, o que mais gostei foi do autocarro de dois andares. É diferente dos que estou acostumada a ver. E quanto à PAstelaria... em 8 anos que morei em Lisboa, nunca lá pus os pés. Quando fui morar para Lx, pensava que ia encontrar um canto suíço na capital portuguesa. Quando comecei a ver o que as pessoas comiam na esplanada e depois de ver as vitrines algumas vezes ao início do dia... fiquei desiludida... afinal é só o nome... :s
Ah! e O carro que está em primeiro plano (será um táxi?!?) também é engraçado, lembra-me os desenhos animados "The Jetsons".
O 'vossa excelência' foi aqui referido só pelo invulgar aos olhos de uma miúda, Luísa, também me soa a muito pomposo...
Quanto ao tratar por tu e já que tenho uma opinião do país vizinho onde o 'tu' é lugar-comum, diferente da de muitos dos nossos concidadãos- sempre por lá fui muito bem acolhida em todas as suas regiões - penso que é uma questão cultural... incomoda-me mais o tom (uma questão de prosódia) do que ser tratada na 2ª pessoa do singular. Penso que à entoação subjaz uma intenção, mais do que as palavras que utilizamos... E sim, o táxi lembra mesmo esses desenhos animados que pensei serem mais do meu tempo. Bom domingo:)
Sim, o tom faz uma diferença enorme. No entanto, mesmo quando é na maior das educações... soa-me muito estranho. É que eu sou daquelas que não usa o tu com qualquer um. (e não é que use o "você" ou o "senhor/a", não sei como, dou sempre a volta e acabo por não usar nenhum dos três. :D)
Os Jetsons na realidade não são "do meu tempo". No entanto eu via-os numa reposição feita pelo Cartoon Network ou algo do género, quando vinha passar as férias à Suíça. Eu adorava a empregada-robô. :D
Pois, também utilizo o mesmo 'truque' de conseguir dar a volta às formas de tratamento quando suspeito que possa ferir susceptibilidades, coisas das pessoas 'das letras'... Quanto ao autocarro de 2 andares referido no primeiro comentário, penso que se trata de um veículo de excursão, já que os de 2 andares das carreiras citadinas eram os tais clássicos 'double deckers' fabricados em Inglaterra, iguais na forma e diferentes na cor.
Quanto aos deliciosos Jetsons, no sótão da casa dos meus pais ainda lá teremos exemplares de BD.
Relativamente à importância da prosódia (que é enorme), explica a mesma algumas discussões inúteis em fóruns e blogues, pois a escrita encobre completamente o tom (e quem está por trás das palavras) e isso é , por vezes, mal interpretado. Felizmente comigo poucas ou quase nenhumas vezes tem sucedido, mas já verifiquei muitas situações dessas ... O tom é trabalhado para se ter sucesso em profissões que envolvem essencialmente relações humanas, bem como para evitar mal entendidos.
E quanto a ter desejado bom domingo - coisas de quem ainda não regressou ao trabalho embora, pela primeira vez, tenha trazido do mesmo um enorme TPC em total inversão de papéis - corrijo e transformo a saudação em bom fim-de-semana, é que isto de férias faz-me esquecer a quantas ando:P
...e o coração pulsa!!! A foto está com um charme irresistível! FABULOSA! Parece que tem vida própria.... :)))
EXCELENTES férias, Teresa !
Abraço :))
M
Mário F.
O nome não ficou no comentário anterior.....:)
Também gostei muito da imagem, Mário F.
Boas férias (se for caso disso) e abraço:)
Aquele autocarro era da Cityrama e fazia serviço de turismo.
Os dois pisos não serviam para aumento da capacidade, mas apenas para permitir que os passageiros vissem as coisas de um ponto de vista mais privilegiado.
Daí aquela enorme áres de vidro.
Não me lembro deste modelo, mas de outros posteriores já da década de 1970, mas também com os dois pisos e as vidraças por todo o lado.
Lembrei-me que em tempos tinha visto algures os autocarros da Cityrama. Aqui fica o link do blog Restos de Colecção: http://restosdecoleccao.blogspot.com/2009/08/ainda-se-lembra-da-cityrama.html#comments
O da foto é o modelo de 1968.
Obrigada por todos os esclarecimentos adicionais que me fizeram recordar a Cityrama. Se não estou em erro, recordo ver em alguns destes veículos os turistas com auscultadores, penso que teriam direito a visitas guiadas num idioma que pudessem entender.
Continuei a vasculhar na internet e reparei que a Cityrama ainda funciona, agora com os autocarros vermelhos descapotáveis!
Perdeu muito glamour, mas os tempos são outros.
Agradeço as informações adicionais ao Ricardo Moreira. Realmente, aqueles autocarros tinham qualquer coisa...
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