
Uma casa cheia de gente de todas as idades. Longe vão os tempos em que a área da plateia, livre de cadeiras, acolhia espectadores de pé a dançar ao som da música e – pasme-se – alguns de cigarro aceso… Os tempos são outros e salas repletas trazem aos músicos um merecido conforto. Concerto essencialmente composto de temas conhecidos pelos trabalhos editados em cd, é sempre uma festa ver este grupo ao vivo, mesmo sabendo que existem discordâncias por parte de alguns amigos com quem se fala sobre o assunto: encontrando-se o fado a aguardar a distinta menção de património mundial, não pode o mesmo ser impedido de seguir outros rumos ou de sofrer diversas influências, afinal não existe consenso quanto às suas raízes. Pensa-se que nada deve estagnar, merecendo revestir-se de novas cores, de novas sonoridades, de novos ritmos, de diferentes posturas em palco… O cenário é também um encanto para os olhos, que o «digam» as imagens criativas de João Fazenda: cordas de guitarra cujas notas são símbolos tão nossos, um gira-discos antigo, um Santo António a jogar à bola…
… E como protestar através das palavras cantadas já não é o que era – em nome da tal mudança a marcar o presente século – quase no final, o espantoso tema ainda não gravado «Parva que sou», do qual fica o texto a perdurar, qual preocupante alerta «que mundo tão parvo/ onde para ser escravo/ é preciso estudar»… Seguiu-se à sua apresentação um prolongado aplauso de pé por parte da jovem assistência: para determinada faixa etária, mais do que para gerações mais antigas, revestem-se as palavras de particular sentido.
Parva que sou