11 de março de 2010

Memórias de turista acidental

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(imagem:atik-travel)
Viajar nem sempre se associa a lazer com grupos de turistas a sair de aviões e a entrar no shuttle que os irá conduzir ao resort de palmeiras, enfeitado a mar de águas quentes e tranquilas …
Para além das viagens através de ideias e de livros, privilegiado convívio, existem as digressões de trabalho por curtos ou longos períodos.
No isolamento passado de remota cidade angolana, acontecia ter de rever mudanças de planos de modo inesperado, ou seja, adiar por cerca de duas semanas – já no aeroporto e de mala aviada - saídas para a capital: o país encontrava-se -dizia-se - em reconstrução e os voos eram cancelados “em cima da hora”. Não tendo na altura crianças, aprendi a encarar a situação sem desespero (« a vida é breve- pensava») e os cancelamentos até proporcionaram diversos jantares improvisados para a cooperação internacional lá da terra – com o mobiliário reduzido ao essencial, a técnica era colocar uma enorme porta de roupeiro sobre uma pequena mesa- , cozinhando os caranguejos gigantes de Moçâmedes que já tinham convivido (enclausurados, é certo) com a sala de embarque no aprisionamento da caixa frigorífica cheia de blocos de gelo, tendo sido tais manjares capturados pelo Chico Rios, famoso na terra. Quando havia ovos até nos dávamos ao luxo de requintadas mayonnaises para enriquecer o repasto.
Memória marcante terá sido a de viajar em avião de carga, com bancos de madeira corridos, pretendendo imitar (sem sucesso) para-quedistas em qualquer filme de aventuras... Como tudo tem vantagens, a baixa altitude a que se deslocam estes veículos permite uma apreensão dos detalhes paisagísticos a vingar na memória. Num destes voos, um enorme automóvel de marca sueca era transportado ao centro do avião, entre os passageiros.
À saída, retirei o meu saco de pano que se encontrava sob o veículo, tendo-me apercebido de que vinha embebido em gasolina (e pensar nos cuidados de segurança, etc. e tal, a que se assiste na actualidade!). A aterragem levava-me a fitar (aqui esquecia as recomendações de infância «não se fixa o olhar nas outras pessoas, isso incomoda-as») camponesas transportando alguidares, vassouras e, por vezes, até galinhas. É que murmuravam carpidas ladainhas em línguas locais e, mal o avião pousava em terra, rebentava um aplauso ensurdecedor a levar à inveja qualquer músico carismático.

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