18 de outubro de 2009

O tempo das abóboras

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Há anos houve cá na horta uma abóbora que - qual fenómeno do Entroncamento - atingiu dimensões impensáveis, tive de pedir ajuda para a transportar até à cozinha. Para além de um enorme tacho de doce, fez-se com ela um número já esquecido de sopas e ainda foi distribuída por família e amigos. Ostentava um colorido de fazer inveja a uma qualquer Agatha Ruiz de la Prada…
O amigo A que, na época, aparecia inesperadamente, sempre que se aborrecia ante a perspectiva de fins-de-semana nordestinos, ficou surpreendido com o doce servido de manhã, dado na sua aldeia transmontana a abóbora ser destinada exclusivamente a alimentar o gado, segundo nos informou. Com o correr dos tempos, o doce foi ganhando requintes, sendo-lhe juntado nozes e tendo passado a ser consumido com um maravilhoso requeijão de sabor genuíno.
As marcas culturais ligadas à alimentação trazem frequentemente à memória a tão especial avó Antónia. Nascida em Lisboa, tinha raízes em Alcaide, perto do Fundão. Contava-me, divertida, algumas situações que descobriu na sua aldeia das beiras das poucas vezes que lá foi visitar parentes - nos anos 20-30 as viagens eram dificultosas, o que levava a adiar o regresso às origens. A frase amável dos anfitriões que desejavam não ver sobras do almoço e lhe diziam, de sorriso rasgado, «coma, coma, se há de se deitar aos porcos…» e ainda o relato de um lanche com ovos estrelados em que, um pouco enjoada e estranhando o sabor, pergunta-lhe a dona da casa: « os ovos estarão bem assim ou deseja um pouco mais de açúcar?».
As abóboras amontoam-se nos muros aqui pela zona, tendo um dos seus principais cultivadores dito, no ano passado, que muitas delas já se destinavam a ser vendidas à professora da escola primária para uma determinada festa cujo nome – homem simples do campo – desconhecia.

5 comentários:

gin-tonic disse...

Boa tarde, Teresa.
Domingo é um bom dia para falar de abóboras. Mais ainda por este Outono terno e macio. O neto já lhe perguntou se arranjou a abóbora para a desbunda. A neta vai saber este ano o que isso é. A abóbora vai buscá-la, por um destes dias, ao amigo Quim. Não as põe no telhado. Coloca-as nos degraus da casa.
Vai apanhar a boleia do "post" da Teresa para colocar o delicioso começo de "Abóboras no Telhado" de Aquilino Ribeiro.

Luísa disse...

Eu acho piada aos bonecos da festa da qual o outro senhor desconhece o nome. Mas prefiro a sopa, o doce e um puré que uma vizinha minha fazia deliciosamente e que fica muito bem a acompanhar um arroz branco. Um dia tenho que perder uns minutos para lhe cravar a receita...

teresa disse...

Luísa,

Essa receita de puré de abóbora deixou-me curiosa. Pode ser partilhada aqui connosco?:)

Luísa disse...

Se eu a conseguir, terei todo o prazer em fazê-lo. :)

teresa disse...

Obrigada.
É que com a produção de abóboras cá do sítio, fiquei curiosa:)