2 de dezembro de 2010

Teresa Torga ou a letra puxa a lembrança

Estava  a folhear distraidamente uma Plateia e descubro as fotos de uma actriz de revista chamada Teresa Torga. Lembro-me da canção do Zeca Afonso de que passo a transcrever a letra:

No centro da Avenida
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua (...) 
Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga 
Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que o diga António Capela 
T'resa Torga, T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta

Não há luta sem batalha.  


Assim era Teresa Torga em 1966. Podem clicar na imagem para aumentar.
E descubro mais informação aqui.
http://vejambem.blogspot.com/2006/12/teresa-torga_27.html.


Com a devida vénia, transcrevo.



"Com o título "Quem se despiu na via pública, onte, às 4 da tarde?", no Diário de Lisboa (4.5.75), Rogério Rodrigues conta a história de uma mulher "de que não se conhecia o nome", que ontem, às quatro da tarde, fazia strip-tease enquanto dançava, ao centro do cruzamento da Avenida Miguel Bombarda com a Avenida 5 de Outubro."Visivelmente surpreendidos, alguns espectadores da cena, invulgar em ruas de Lisboa, dirigiram-se para a mulher no intento de a proteger das vistas de quem passava e de quem parava, persuadi-la a vestir-se e abandonar o local. No meio da confusão, surge o repórter António Capela, que começa a disparar. Os populares, indignados com o que consideram 'uma baixeza moral', investem sobre ele, insultam-no, empurram-no, agridem-no e só a intervenção do proprietário da drogaria vizinha impede que não lhe partam a máquina. (...) Entretanto a mulher tinha sido levada para o limiar de um prédio com porteira à porta. Já vestida, olhava apática para as pessoas que a rodeavam. Dizem-me que se chamava Maria Teresa. 'Não sou Maria. Não sou Teresa. Tenho muitos nomes.' Tinha os lábios encortiçados e recusava o copo de água que lhe ofereciam.""Quem se despiu na via pública, ontem, às 4 da tarde?". interroga-se o jornalista. que passa a contar o percurso de vida, entretanto averiguado, de uma mulher de 41 anos, divorciada, sucessivamente actriz de revista, emigrante no Brasil, cantora de fado e que agora, no intervalo de tratamentos no Júlio de Matos, "mudava discos no pick-up" de uma boite em Benfica.Usava o nome de Teresa Torga "porque há um escritor que se chama assim" e ela gostava muito de ler, conta uma vizinha. A última vez que o repórter a viu seguia ela num carro da polícia para a esquadra do Matadouro.Zeca Afonso lê a crónica, magnífica, põe-lhe notas e voz, e imortaliza-a"

(in "Os dias loucos do PREC" de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira. Ed. Expresso/ Público, 2006)


Acrescente-se. 
O autor da crónica , Rogério Rodrigues,fala sobre a mesma no seu blogue.


E a crónica que originou a canção.
Clicar na imagem para ler.

6 comentários:

Anónimo disse...

Belleza escultural

Branca disse...

Desconhecia. O acontecimento e a pessoa.
Mas são estes apontamentos que vão fazendo a historia da cidade.
Gosto de saber.

Alan Romero disse...

Graças a esta entrevista com a Teresa Torga fiquei a saber sobre o disco que gravou no Brasil.
Fiz uma pesquisa e consegui achá-lo no acervo do Centro Cultural São Paulo. Eles foram muito simpáticos em disponibilizar os áudios, que podem ser ouvidos aqui:
http://tinyurl.com/3c7zy63
Escrevi um pequeno artigo contando toda a história e não esqueci de citar este blogue.
Abs

ntav disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
maria disse...

Onde posso encontrar o link da entrevista?
Obrigada

maria disse...

Onde posso ler a entrevista?