21 de julho de 2009

OS CINEMAS TAMBÉM SE ABATEM

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No ponto da cidade onde cresceu, o “Império” era o cinema de estreia que estava mais à mão, os outros eram cinemas de reprise. Pelos domingos, o ir ao “Império”obedecia, pela malta da rua, ao ritual de vestirmos a melhor roupinha e pôr gravata. O Dudu tinha uns sapatos prteas que exigiam que passasse parte da manhã a pôr-lhes cré branco Os olhos do Dudu gargalhavam quando saía a porta de casa, ajeitava o nó da gravata, puxava as mangas da camisa, e assumia um ar imperial.

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O “Império” é um belo e imponente edifício da responsabilidade de Cassiano Branco, começado a construir em 1947 e concluído em 1952.
Dizia-se que era a sala, em Lisboa, com melhor som e imagem.
Em 1955 era inaugurado o “Café Império” com entrada pela Avª Almirante Reis e mais tarde, no topo do edifício, virado para a Alameda D. Afonso Henriques, surgiu o “Estúdio” de que aqui já se falou no dia 16 de Novembro de 2008.
Hoje, onde foram os cinemas, está por lá uma seita religiosa, mas o Café ainda subsiste. Há uns três anos atrás, sofreu , por parte da seita religiosa, uma tentativa de apropriação, chegaram a aencerrá-lo, mas um movimento de empregados do café, apoiados pelos clientes e pela Câmara Municipal de Lisboa, impediram o consumar do crime e, hoje, continua a servir o seu ex-libris: os "bifes à Império".
Tudo vai mudando, os bifes já não têm o “glamour” de outrora, as coisas são mesmo assim, ele próprio já não é o mesmo, mas os bifes que hoje servem, mantém uma honestidade que, por exemplo, os da “Portugália” e os da “Trindade” já não apresentam.
O cinema Império também funcionou como teatro. A partir de 13 de Novembro de 1961, e durante três anos, segundas-feiras, à tarde, ali esteve o Teatro Modrno de Lisboa, de que também por aqui se falou em 17 de Janeiro de 2009.
Em 1996 o IPPAR classificou o imóvel de utilidade pública.
Com o pai assistiu no “Império” à estreia de “The Young Ones”, que em português se chamou “Uma Rapariga nos Teus Braços", com Cliff Rochard e os Shadows, um filme completamente datado, mas que por aqueles tempos provocou um encantamento divertido.
Em 1965 pediu prenda de Natal antecipada para, nesse mesmo mês de Dezembro, embasbacado, assistir na plateia do “Império” à actuação de Cliff Richard com “The Shadows”
As sessões clássicas do “Império” proporcionaram-lhe o conhecimento de filmes que ficaram a marcar a história do cinema.
Quem, no primeiro 1º de Maio, subiu a Avenida Almirante Reis pôde ver o enorme cartaz com “Couraçado Potemkin”, filme de Sergei Eisenstein.

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O programa que tem para mostrar regista “O Implacável”, filme de Philippe Labro
com Jean-Paul Belmondo, estreado a 25 de Novembro de 1976 e aconselhado a menores de 18 anos. “Toda a sua vida, diz um dos protagonistas do filme, “foi um caçador de feras. Um dia descobriu que a única caça que ainda o poderia interessar era o homem.”
Antes do filme era exibido o documentário “No Reino das Aves”.

3 comentários:

Anónimo disse...

É coroláro lógico deste Blog as lembranças de tendência "canhota" mas talvez fosse mais evocativo a estreia acompanhada dum tambem "enorme cartaz" (normais para essa época na frontaria dos cinemas) do filme: Encontros Imediatos do 3º Grau dum Sr. chamado Steven Spielberg.

carlos disse...

a tendência canhota é uma coisa que nunca tinha lido... mas estamos sempre a aprender.

pena que os encontros imediatos não estivessem em cartaz na data evocada.

mas a primeira parte desse programa do couraçado, foi um excelente filme português chamado 'jaime', de antónio reis. sobre um internado no hospital júlio de matos.
uns meses antes dessa estreia, em março de 1974, estava na aldeia do barco, junto ao fundão, a fazer recolhas de música popular e conheci um familiar do jaime (creio que ele era igualmente do barco).
jaime é um dos mais deslumbrantes e perturbadores filmes portugueses

Anónimo disse...

Perturbador acredito.....
Sobre um internado no Júlio de Matos....
Para quem tiver tendência para a desgraça.....
Se calhar foi por verem filmes destes que os "artistas" políticos de 1975, ano seguinte a verem o filme, dramáticamente conduziram-nos à desgraça.
O Júlio de Matos já estava lotado....