“Algeciras es una ciudad muy fea”, diz-me Pepe; é como se estivesse a dizer-me que a Coca-Cola é uma marca americana. “Talvez”, respondo, “mas tem as pessoas mais simpáticas, hospitaleiras e prestáveis que há no mundo”. (“Pelo menos no meu”, acrescento em silêncio, que ele há muito mais mundo por esse mundo fora do que o que eu conheço ou frequento).
Algeciras não é uma cidade: é um porto com uma cidade por trás. E um porto (sobretudo os portos modernos, nos quais a carga geral foi substituída por contentores, granéis líquidos e sólidos, combustíveis, Ro-Ro e quejandos) é feio, qualquer que seja; é mágico, faz sonhar adolescentes, velhos e tudo o que fica entre ambos - até as pedras da calçada, suspeito - inspira poetas (a “saudade de pedra” é dos versos mais bonitos que conheço) - mas é feio, inapelavelmente feio. É o segundo maior da Europa, logo a seguir a Rotterdam e cheira a esgoto (mais ainda do que Lisboa, porque lá pelo menos é só na maré baixa, e aqui é sempre). Vejo-o e oiço-o, enquanto escrevo: gruas gigantescas, tanques para combustível, o zum-zum permanente dos barcos a entrar e a sair.
Se desviar um bocadinho o olhar vejo Gibraltar, uma das cidades da minha vida, imponente, soberba, linda. "Os ingleses ao menos mantiveram-no", dizia-me ontem Daniel, o medidor francês. "Nós deixámos o que tínhamos".
Hoje é o primeiro dia de calma desde que cheguei: na primeira noite houve um mastro partido, na segunda um "toque" nas rochas. Dois abandonos numa frota que à partida já era pequena (agora estamos em três, mas o terceiro, graças a Deus, não foi por avaria). O tempo durante o percurso foi ingrato, Mediterrânico: desde a total ausência de vento até 40 nós pela proa os participantes viram de tudo.
Agora, há que preparar a largada para Lisboa - e trabalhar na regata do ano que vem.