27 de junho de 2008

a luz de cesariny para o luar de barcelos

ontem foi noite de cesariny na porta nova.
com a torre da cerca, que há não muito tempo ainda era prisão antes de vender o 'figurado', como cenário e o camião do lixo como banda sonora incidental.
em dia de feira, o surrealismo confessado em projector.
as idas às putas mandado pelo pai, a excitação da primeira menção à masturbação de um adolescente num tanque de queluz (o célebre tanque das figueiras) que lhe marcou a vida sexual. o verbo explícito.
como sempre.
e as gentes com sorrisos sonoramente condescendentes à primera e silêncios à segunda.
e as palavras.
sobretudo as palavras.

afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita genteque come

que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
gerente! este leite está azedo!

que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

no riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

(pastelaria, mário cesariny)


mas sim, ontem também foi dia de feira
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