21 de dezembro de 2006

Calendário gastronómico

Dezembro

Em tudo digno do mês que o antecede e daquele que lhe sucede, recomenda-se pelas suas deliciosas caldeiradas. La Râpée tem o monopólio de caldeiradas excelentes; é imprescindível passar por uma dessas tascas onde, coisa singular, o mais modesto cozinheiro, ao elaborar esta especialidade, supera em muito os nossos melhores artistas.

A carne de açougue, a caça, o peixe e as aves têm em Dezembro o mesmo grau de qualidade que nos dois meses que se seguem. No entanto, o fim do ano e os compromissos que ele acarreta fazem com que as reuniões dos gulosos sejam ainda bastante raras. É necessário preparar-se para os prazeres que advirão das visitas feitas com discernimento, sobretudo em relação ao cuidado em dispor, como convém, o coração para os nossos anfitriões.

Seria um crime de lesa-gula não sentir emoção ou simpatia pelo homem generoso que nos proporciona virtualhas opíparas e nos dá a degustar dos seus melhores vinhos. No ponto a que chegámos, o ano gastrónomo percorreu as suas diversas fases.
Mas, dirão, não nos referimos, nem às sobremesas, nem aos molhos ou à pastelaria.
Fizemo-lo propositadamente, já que a nossa atenção foi em primeiro lugar para os apreciadores da boa mesa.

Ora bem, para os verdadeiros gastrónomo, estas coisas não passam de bagatelas, de meras lambarices que elas deixam para as senhoras.
Num jantar digno do seu nome, o gastrónomo repousa a seguir ao assado. Os pratos do meio não passam para ele de um divertimento e os outros supérfluos. Quanto à sobremesa, apenas aprecia o queijo e as castanhas, na sua qualidade de alternativas.

LA REYNIÈRE, GRIMOD DE (1758-1838)

Escritor e gastrónomo francês, é considerado o pai fundador da literatura gastronómica,
ao publicar o primeiro volume do Almanach des gourmands, o primeiro guia
gastronómico da literatura.
Grimod começou por colaborar com jornais como crítico de teatro. Um panfleto contra
Saint-Ange valeu a este filho de um arrematante dos impostos régios a expulsão da
capital e o exílio durante dois anos para uma abadia no coração da Lorena, onde veio a
descobrir os prazeres inigualáveis da boa mesa. De regresso a Paris, Grimod dedica-se
de corpo e alma à “carreira alimentar”, criando um júri crítico de gastrónomos que se
reunia regularmente para provar pratos, cujas opiniões eram depois publicadas no
famoso Almanach des gourmands (1803-1808).

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