18 de setembro de 2011

Num mundo melhor



Após uma semana preenchida e numa época em que ir ao cinema nos faz pensar no slogan publicitário «a tradição já não é o que era», vai-se em corrida ao clube de vídeo para trazer um filme dinamarquês cujo título , «Num mundo melhor», se revela surpreendente tradução do título original «A vingança», galardoado com diversos prémios. Após leitura de algumas críticas – a do uso e abuso do recurso a cenários povoados de alpendres, casas de enormes paredes envidraçadas , multidões de pássaros a preencher o espaço ao entardecer, campos a perder de vista e calmos espelhos aquáticos -como se a fotografia se substituísse ao entretecer do enredo, vai-se digerindo uma longa metragem inquietante por nos levar a pensar em problemáticas do nosso tempo.
Por deformação profissional, salta à vista a questão do bullying e o modo como a escola nórdica de uma localidade aparentemente pacata o encara, ou seja, pegando no problema «com pinças», ao contrário do que se pensaria na nossa visão pessimista do sul da Europa, sempre a remeter-nos para um lugar mais sombrio do que o dos restantes -  no filme a violência continuada e exercida sobre os jovens mais pacíficos é algo banalizada pelas hierarquias da escola, em aparente tentativa de evitar atritos que ultrapassem o espaço físico da instituição.
Mais do que esse preocupante problema a ensombrar os tempos atuais – não será por acaso que a expressão «indisciplina na escola» terá dado lugar ao conceito de «violência no espaço escolar» - muitas questões acabam por ser levantadas ao longo dos acontecimentos: a dificuldade encontrada por um adolescente de classe média durante a perda da mãe (tema bem entendido pelos especialistas que a designam por «não ter feito o luto») a servir de motor a parte significativa da ação, a par da vivência de outra personagem central: o médico sueco, radicado na Dinamarca, a desdobrar-se entre uma família fragmentada e uma localidade perdida no continente africano onde tem de cuidar, em situações algo precárias, de vítimas de um bando que instaura o terror, semeando a violência gratuita.
Correndo-se o risco de muitos terem visto o filme e de eventuais interessados perderem pela descrição detalhada dos acontecimentos, o que não se fará por motivos óbvios, fica a referência sempre arriscada pela subjetividade da interpretação. De modo lato, conclui-se com a seguinte ideia: pelo mesmo motivo que se torna complexa a apresentação em contexto escolar do filme «Inteligência Artificial» pela multiplicidade de assuntos para os quais remete (testemunho de professores de Inglês que o podem utilizar em turmas a finalizar a escola secundária), a título individual esta película dinamarquesa, a ser pensada à distância de algumas horas e mais afastada da ficção da atrás referida aponta, ela também, para uma diversidade de questões inquietantes, destacando-se a violência sob diversas formas e em diversos espaços do planeta, a par de uma frustrante incapacidade na sua resolução, paisagens idílicas à parte.

aqui com as legendas possíveis

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