11 de maio de 2011

O valor do dinheiro



"Quanto vale o dinheiro" trata-se, ao longo da vida, de expressão recorrente outrora utilizada por avós, dado  as gerações seguintes pouca experiência terem então na matéria. Só os mais velhos sabiam «com um saber de experiência feito» o que conseguiam comprar com uma moeda. Hoje avança-se a ritmo veloz, para não se dizer estonteante.
A apagar mensagens  da caixa de correio, eis que surge um álbum fotográfico com antigas notas nacionais, algumas  anteriores à República.



Olhando as seleccionadas por fazerem parte da memória colectiva, fica-se a pensar como não é hoje preciso chegar-se à terceira idade para relatar aos mais novos o valor do dinheiro: um pai que, em finais de sessenta, compra todo o material de desenho que a filha deverá levar para o liceu com cento e poucos escudos ganhos na lotaria; uma mesada de quinhentos escudos auxiliada por trocos de um part time que, nos anos setenta, se tem de gerir para pequenos extras como um lanche de café e bolo, a compra pontual de um livro ou os vinte e cinco tostões para uma ida aos ciclos de cinema do Palácio Foz; a troca de escudos por liras para uma filha que, em finais de noventa, precisa de ir enquanto estudante a Roma (e aí a profusão de notas quase que exige uma mala extra na bagagem, tanta lira! Olhos arregalados ante o monte de papel recebido no banco, mas já se corre o risco de fuga ao tema).



E eis que muda o dinheiro: nos primeiros meses de euro, parecia estar-se a jogar ao monopólio (só ante a novidade, é certo), tal o impacto causado pelo aspecto do papel-moeda. Reclamações ouvidas casualmente como a de as laranjas, duas semanas antes da adesão a cem escudos o quilo, terem subitamente sofrido o aumento de cem por cento tendo passado , por artes de magia, a custar um euro (iliteracia matemática ou astúcia do comerciante?). Sem pretensões a economista e ciente de limitações na matéria, não subscervendo a  apologia nostálgica do regresso ao velho escudo – parece à primeira vista uma ideia peregrina com mentais associações a uma antiga Albânia, a ver vamos se não se terá de engolir o aparte  -  pende  o coração para a estética das notas de escudo, mesmo sabendo-se da vantagem (também ela estética) de, quando restam trocos nos países de moeda única, não se ter mais de gastar o vil metal em despropositada correria, sob risco de se trazer para casa um saco cheio de cascalho , qual cidadão da Idade Média deixando, por esquecimento e ao longo dos tempos, a pequena fortuna a um canto da gaveta.

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