11 de agosto de 2010
“Se quer prender a si uma vida nova”
Há dias assim, como este, em que duas e três vezes colocam anúncios no pára-brisas do meu carro. Ultimamente têm colocado uns quadradinhos de papel, tipo A6, com muitas palavras escritas e alguns sinais da simbologia islâmica, associando estrelas e quartos de lua.
Por hábito e em geral recolho-os, amarroto-os e deito-os no compartimento da porta do carro, onde ficam até à próxima recolha geral de lixo ao interior do carro.
Outras vezes, quando não reparo antecipadamente na sua existência, ponho o limpa pára-brisas a funcionar na esperança vã que se soltem, o que nunca acontece. E assim que o carro ganha alguma velocidade, lá começa o papelinho a produzir aquele barulho chato, próprio do papel a vibrar rapidamente. Nestas ocasiões, lembro-me sempre das cartas de jogar que colocava nas rodas da bicicleta, para produzirem o som parecido ao do motor de uma mota a trabalhar.
Bom, mas os últimos três papelinhos recolhi-os e não os deitei fora. Desta vez vou lê-los, pensei eu, e assim fiz. Como achei graça aos textos, passo a transcreve-los.
Os títulos:
“Não existem problemas sem solução/ que não possam ser ajudados pelo/ Professor Facoli/ ajuda com sucesso onde os outros falham/ astrólogo africano de confiança/ Algarve Portimão”.
Isto promete, pensei eu, deixa-me examinar os outros papelinhos:
“Portimão/ Professor Bagaly/ astrólogo africano de confiança/ Algarve”.
E o outro papelinho mais simples na apresentação:
“Professor Bana/ ilustre espiritualista e cientista”.
Visto os títulos passemos ao texto:
Todos eles, no texto corrido, continuam a anunciar as suas qualidades, agora com mais pormenor, por exemplo:
“Grande cientista, espiritualista e curandeiro, descendente de uma antiga e rica família com poderes de magias negras e branca”.
Ou, no outro anúncio, de forma mais pragmática:
“Espiritualista e cientista, dotado de conhecimento e poderes, ajuda a resolver problemas em menos de 48 horas, difíceis ou graves, com eficácia e garantia”.
[curioso, o meu corrector automático sublinhou, a verde, o texto e diz que há um problema de concordância em número. Será que o corrector já interpreta intenções?]
Apesar destas nuances de apresentação todos se dedicam aos mesmos males ou problemas como lhe chamam, os quais passam irremediavelmente por serem encabeçados pelo “amor” ou “todos os problemas sentimentais”, e se prolonga o rol por “aproxima e afasta pessoas amadas com rapidez e garantia total” ou “abandono do lar, separações” ou ainda “casamento”. É extraordinário como o amor é o problema com a necessidade de solução mais premente no Algarve. Bolas e estamos no verão! Mas, tranquilizem-se, até mesmo o amor se resolverá num instante, como anuncia, a negrito, o professor Facoli com o seu método, pelos visto famoso, do “Caldeado verde, técnica simples e eficaz e rápido que faz voltar ao domicilio conjugal uma esposa ou marido”. A cor do caldeado não é muito do meu agrado, mas que o método resulta, lá isso resulta.
Como não podia deixar de ser a outra questão abordada é a impotência sexual. Mas também podem estar descansados todos os impotentes pois, tal mal, é também tratado, com eficiência e rapidez, pelos três professores, sendo anunciado da seguinte forma: “Cura impotência sexual dentro de horas, com sucesso absoluto”.
Querem melhor? Em horas, sucesso absoluto! Penso que melhor não podia ser, a não ser que fosse em minutos!
Mas o rol de problemas a tratar é extenso e variado: “maus olhados”; “sorte nas candidaturas, desporto, exames”; “alcoolismo, drogas ou outros vícios maiores”; “inveja”; “negócios”; “doenças espirituais”;(…).
Outro facto que achei interessante foi a similaridade das frases dos três anúncios e destaco uma, que dois deles contêm, por considerar que é o melhor slogan para este tipo de publicidade. Vejam lá se não é:
“Se quer prender a si uma vida nova”.
Outra questão que me despertou curiosidade foi que, dois deles, repartem o mesmo consultório na Rua Teófilo de Braga, 27 - 3ºFt, em Portimão. Mas não julguem que estou a pensar que é o mesmo professor usando dois nomes diferentes, porque não penso assim, pois têm números de telefone distintos.
Sobre estes papelinhos, que me incomodam todos os dias, é tudo o que tenho a dizer. Deixo, contudo, aqui os contactos, não vá ser o caso de precisarem, quem sabe.
Professor Facoli 282 103 495 – 913 059 458 – 925 227 268 (todos os dias das 09h00 às 20h00)
Professor Bagaly 282 113 728 – 963 115 581 (todos os dias das 09h00 às 20h00)
Professor Bana 282 101 207 – 969 373 004 (de segunda a Domingo, das 09h00 às 20h00, pessoalmente ou à distância)
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4 comentários:
Alguém tem que averiguar estes contactos preciosos em Lisboa:)
Uma colega que viveu comigo numa residência de estudantes em Lisboa coleccionava esses papéis. Tinha um painel enorme coberto dessa tralha (para mim, não tem outro nome). Também se divertia a fazer a análise aos seguintes tópicos: os erros de português, os tipos de males e respcectivas curas, os desenhos, os contactos e os nomes desses "santos" homens e mulheres.
Quanto ao facto de terem todos a mesmas morada, é simples, é uma firma, tal como uma firma de advogados. Só que preferem fazer publiciadade individual. Se calhar, nestas coisas das sortes, ter um nome do género "Mambu e associados" não deve ser muito apelativo.
A única coisa que eu nunca entendi é como é que eles conseguem ajudar as pessoas à distância...
Luisa, à distância eles consegue bem, ajudar é que não. :))))
Ah!! Assim já percebo melhor a coisa... :D
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